Iconografia | Datado de 1882, este autorretrato foi executado nos meses que antecederam a partida do jovem pintor, então com 23 anos, para Paris onde durante 4 anos, frequentou os estudos da Académie des Beaux-Arts, como discípulo do então renomado Alexandre Cabanel. Somente no ano anterior, concluíra os estudos na Academia de Lisboa, como aluno de Silva Porto, no primeiro curso por este orientado. As excelentes relações que manteve com o mestre, levavam-nos a pequenas excursões pelos arredores da capital para sessões de pintura ao ar livre.
Ainda nesse mesmo ano, apresentara-se em Madrid, na sua primeira exposição internacional (Exposición General de Bellas Artes) e em Lisboa (I Exposição do Grupo do Leão). Treinado inicialmente como pintor de paisagem, por esta altura passou a dedicar-se igualmente ao retrato, fixando os traços de diversos familiares e amigos, além dos seus próprios em mais de uma ocasião.
Este retrato surge, pois, num período de grande afirmação pessoal, percetível na pose e no olhar de serena confiança com que se apresenta.
É comum entre os pintores que se dedicam ao retrato fixarem, nos primeiros trabalhos, os seus próprios traços ou os de familiares e amigos próximos. O exercício permite não somente adestrar competências, quando os recursos para pagar a modelos são geralmente ainda escassos, como permite afinar a observação, uma vez que o próprio rosto ou o dos que são próximos, oferecem um mais direto acesso a uma inquirição da personalidade.
Alexandra Gomes Markl
In “Identidades, Pronomes e Emoções. As Regras do Retrato, Museu Nacional Grão Vasco, 2019”
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