Iconografia | O Regresso da Horta (também conhecido por Regressando a Casa) obra apresentada na 38.ª exposição anual da SNBA em 1941, revela um dos universos pictóricos mais acarinhados pelo pintor Almeida e Silva, o tema da vida rural, parte integrante da identidade da Beira Alta.
Efectivamente esta “pintura de género”, representa não tanto duas figuras concretas, mas sim a própria gesta agrícola de um povo trabalhador, aqui simbolizado por um casal que regressa a casa, à tarde, depois de um dia de trabalho.
Embora seja uma composição totalmente distinta das Hortaliceiras (inv.2388), este quadro remete-nos para um mesmo mundo do trabalho árduo e para uma estética eivada de valores sentimentais, para um reconhecimento do mérito do trabalho esforçado, de toda uma vida ou de uma classe social, que de algum modo encantava profundamente o pintor e lhe suscitava valores morais de respeito profundos. É por este motivo uma obra intensa e que não deixa o observador alheio à densidade psicológica que emana das duas figuras representadas.
O homem, já de meia-idade, traja um casaco grosseiro e tem “enterrado” na cabeça um velho chapéu de abas já deformado. Trás um braçado de forragem de milho para alimentar o gado e carrega, apoiado ao ombro, uma enxada rasa, adivinhando-se ter estado a trabalhar na horta. A mulher segue-o de perto, vestida com um xaile e um lenço posto à cabeça, e levando uma cesta com hortaliças.
Ambas as personagens têm a pele do rosto sulcada pelas agruras do tempo da Beira, frio no Inverno e quente no Verão, e umas mãos de trabalho, fortes e ossudas, que revelam os anos a fio de esforço na prática agrícola. Apesar da notória simplicidade, o casal não é representado como expectante de um futuro melhor, ou queixoso do seu fardo, mas sim com a naturalidade de alguém que aceita a sua condição e o labor do dia-a-dia, serenamente. | |