Iconografia | Esta pintura integra um conjunto de dezassete aguarelas que Joaquim Lopes executou nos anos de 1928 e 1929, com a anotação de Cenas da Vida dos Pescadores de Matosinhos. Ao contrário da generalidade das pinturas a óleo de Joaquim Lopes, que maioritariamente nos remetem para ambientes relativamente estáticos e em que se procura um tipo diferente de impacto artístico, as dezassete aguarelas apontam num sentido muito diverso, para simples aspectos da vida dos pescadores, cheios de vivacidade e sugestão de movimento, como que colhidas num instantâneo. Estas pinturas são verdadeiras imagens que podem ser encadeadas e insinuar uma espécie de contínuo fílmico, como que uma reportagem do quotidiano dos pescadores, com as mulheres que esperam pelos maridos na praia, aguardando pelo fruto da faina que entretanto terão de vender na lota, e ainda toda uma movimentação de figurantes que conseguem produzir no observador uma sensação realista e quase física, de um ruído de fundo, com pessoas à conversa e grasnados de gaivota, com a impressão táctil de uma fresca brisa marítima, carregada de sal e de aroma a mar.
A espontaneidade e capacidade de observação resultam no modo como Joaquim Lopes retratou estes seus modelos, transmitindo tal realismo a todas as cenas que provoca no observador a sugestão de que todos aqueles grupos vão começar, de repente, a agitar-se em torno dos homens que estão a chegar, porque seria esse o encadeamento lógico da situação que o artista contextualizou.
Estas cenas alusivas à faina piscatória, não são anotações “marinhas”, dado que não subjaz ao interesse do artista representar a beleza natural do mar, mas sim meras observações da faina dos pescadores na sua chegada a terra e do envolvimento dos diversos grupos de varinas e de pescadores. Nelas se manifesta um impressionante domínio técnico do uso da aguarela, tanto mais que são executadas com grande rapidez e precisão, recorrendo a uma paleta relativamente simples e monocromática, em que predominam os tons ocre e cinzentos, de quando em vez pontuados por azuis e vermelhos. Revelam, também, a sensibilidade pessoal do pintor face a um universo marítimo e profissional que lhe estava perto.
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