Origem / Historial:
A maraca, o bastão e a coroa constituem um "conjunto cerimonial usado pelo pajé, no acto de tratamento de um doente ou por ocasião de danças cerimoniais como as do Aruanã. No primeiro caso, o procedimento terapêutico desenvolvido pelo pajé implica, segundo Victor Bandeira, a utilização da coroa sobre a cabeça e a maraca numa das mãos, enquanto agita o bastão com a outra. Pelo orifício posterior da maraca, o pajé insufla com a boca o fumo de um charuto feito de uma espécie vegetal, que sai pela "boca" da maraca, aplicada sobre a parte do corpo do doente a tratar. De seguida, por aquele orifício, o pajé aspira o fumo e, com ele, a doença - os Tapirapé dizem que a "boca" da maraca chupa a doença - sobrando-a depois para longe." (Os Índios, Nós, 2000: 134)
Nota informativa sobre a constituição da Colecção Victor Bandeira:
Em 1964/65 Victor Bandeira e Françoise Carel Bandeira, incentivados por Jorge Dias e Ernesto Veiga de Oliveira, e com o apoio do Centro de Estudos de Antropologia Cultural de Junta de Investigações do Ultramar e das autoridades brasileiras, empreenderam uma expedição à selva amazónica, com o objectivo de conhecer, por experiência e participação efectiva, as formas de comportamento, a cultura material e imaterial, os rituais, os ritos e as artes, dos grupos indígenas que habitavam nessa região.
Durante a sua estada no terreno, o casal Bandeira, percorreu várias regiões do Brasil, Equador, Peru e Colômbia, e contactou com diferentes grupos de índios.
Dessa investigação resultou uma extensa colecção de artefactos que documenta e exprime de um modo perfeito e completo todos os aspectos da vida e das concepções, dos ritos e da criação plástica dos vários grupos com quem estabeleceram relações, inúmeros registo visuais e sonoros, e um vasto conhecimento teórico sobre a vida, a cultura e arte dos ameríndios do Brasil.
Esta colecção foi apresentada ao público em Outubro de 1966 nos Salões da Sociedade de Belas Artes de Lisboa, sob o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Embaixada do Brasil.
Em 1969 a colecção é adquirida pelo então Ministério do Ultramar, com a participação financeira da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação da Casa de Bragança e de alguns particulares devotados, a fim de ser entregue e incorporada no património do Museu Nacional de Etnologia.
A colecção, constituída por cerca de 745 peças, abrange todas as classes de artefactos.