Origem / Historial:
"Estas máscaras, que são próprias dos grupos do Noroeste do Brasil, representam seres ou animais míticos ou espíritos e demónios. Os desenhos que as decoram pretendem figurar as características do animal em vista, meio insecto, ave ou peixe. São feitas e usadas pelos homens, na cerimónia fúnebre que tem lugar cerca de um mês após o enterro de algum membro da aldeia; e ora lamentam o falecimento, ora investem contra a assistência. A sua acção parece ter em vista afastar as forças maléficas durante as cerimónias fúnebres. Terminada a cerimónia, são queimadas no terreno da aldeia, com acompanhamento de lamentos de modo a evitar que os demónios voltem quandos os ritos funerários se cumprirem. Entre os Índios Tukuna do rio Solimões, na fronteira Brasil-Perú, estas máscaras - que levam o nome de "caudas" - saem por ocasião de todas as cerimónias que marcam os estádios da existência individual, nomeadamente as festas de puberdade das raparigas. Representam os demónios canibais exterminados pelos antepassados: Demónios do Vento, da Tempestade, da Água; e também Demónio-Macaco, Demónio-Borboleta, Demónio-Árvore." (cf. Índios da Amazónia, 1986, pp.130-131)
Nota informativa sobre a constituição da Colecção Victor Bandeira:
Em 1964/65 Victor Bandeira e Françoise Carel Bandeira, incentivados por Jorge Dias e Ernesto Veiga de Oliveira, e com o apoio do Centro de Estudos de Antropologia Cultural de Junta de Investigações do Ultramar e das autoridades brasileiras, empreenderam uma expedição à selva amazónica, com o objectivo de conhecer, por experiência e participação efectiva, as formas de comportamento, a cultura material e imaterial, os rituais, os ritos e as artes, dos grupos indígenas que habitavam nessa região.
Durante a sua estada no terreno, o casal Bandeira, percorreu várias regiões do Brasil, Equador, Peru e Colômbia, e contactou com diferentes grupos de índios.
Dessa investigação resultou uma extensa colecção de artefactos que documenta e exprime de um modo perfeito e completo todos os aspectos da vida e das concepções, dos ritos e da criação plástica dos vários grupos com quem estabeleceram relações, inúmeros registo visuais e sonoros, e um vasto conhecimento teórico sobre a vida, a cultura e arte dos ameríndios do Brasil.
Esta colecção foi apresentada ao público em Outubro de 1966 nos Salões da Sociedade de Belas Artes de Lisboa, sob o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Embaixada do Brasil.
Em 1969 a colecção é adquirida pelo então Ministério do Ultramar, com a participação financeira da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação da Casa de Bragança e de alguns particulares devotados, a fim de ser entregue e incorporada no património do Museu Nacional de Etnologia.
A colecção, constituída por cerca de 745 peças, abrange todas as classes de artefactos.