Origem / Historial:
Testemunhos de uma atmosfera de conforto e aparato, emergente nos finais da Idade Média, embora estruturalmente alteradas por uma adaptação posterior, os dois exemplares inscrevem-se numa tipologia de salvas decorativas de pé alto com a marca estética e ornamental do manuelino. A nota mais expressiva e original destas peças reside na solução decorativa da superfície circular do prato, com um recurso a um esquema de faixas concêntricas de alvéolos hemisféricos e fiadas de pontas de diamante. Estas formas que também encontramos em duas salvas da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, resultam de uma reciprocidade de relações entre a ourivesaria e arquitetura. Entre os mais conhecidos exemplos de apropriação do motivo das «pontas de diamante» pela arquitetura portuguesa, refira-se a celebrada Casa dos Bicos, em Lisboa, o portal da igreja da Vestiaria, em Alcobaça, a fachada do palácio do Infantado, de Juan Guás, e as igrejas projetadas por Juan de Inglés, na antiga diocese de Cartagena, já na segunda metade do século XVI. Sem negar a dimensão simbólica intrínseca do motivo de ponta-de-diamante, e as especiais virtudes taumatúrgicas que se associavam às gemas, a adaptação padronizada deste elemento, esvaziando-o portanto da sua particularidade substancial, mais do que atender a pressupostos simbólicos, responde essencialmente a intenções de valorização plástica das superfícies, por vezes austeras e simples, com elementos geométricos de perfis límpidos e nítidos, retirando daí os efeitos exuberantes das texturas particularmente sensíveis à luz.
Habitualmente exibidas em aparadores, nas salas destinadas a momentos de convívio, as salvas funcionavam como uma verdadeira metáfora da posição e hierarquia do seu proprietário.