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FICHA DE INVENTÁRIO
Título: Édipo e a Rainha Jocasta/conjunto Autores: Orley, Bernard van (ca.1488-1541) Aelst, Pieter van Centro de Fabrico: Flandres Oficina / Fabricante: Bruxelas Datação: 1525 d.C. - 1535 d.C. Técnica: Tecelagem de alto liço Dimensões (cm): altura: 415; largura: 417; Descrição: O tema central da composição é a coroação de Édipo como rei de Tebas e o casamento com Jocasta.
No centro, o casal régio ocupa o trono sob um alto dossel de tecido brocado e debruado por um galão largo e ornado de pedraria. Jocasta é representada como uma mulher ainda jovem, ostentando a coroa e o ceptro reais. Édipo, a quem uma grossa cadeia de ouro cai sobre o peito, senta-se à direita de Jocasta. No cinto que lhe cinge a veste, mostra a inscrição EDIPVS.
Em primeiro plano e de cada lado da tapeçaria, aproximam-se do trono duas figuras masculinas que, em atitude de reverência, trazem a coroa e o ceptro real. Na retaguarda da figura que segura a coroa, agrupam-se outras duas figuras que presenciam a cena. Uma delas aponta para a cena e para Édipo. Entre duas colunas que integram a estrutura arquitectónica de encontro à qual se ergue o trono, podem ver-se dois arautos fazendo soar instrumentos de sopro. No plano posterior esquerdo, o momento no qual Édipo defronta e decifra o enigma da Esfinge. À direita da tapeçaria e igualmente no plano posterior, duas figuras femininas de expressão enigmática e distante. Incorporação: Transferência - Antigo Paço Episcopal de Lamego
Origem / Historial: *Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006; 18/07/2006*
"A série de Édipo pode ter sido uma alegoria encomendada durante a regência de Margarida de Áustria, para reforçar a questão da sucessão por linha materna ao trono de Flandres. Após a morte prematura da mãe de Margarida de Austria, Maria de Borgonha, em 1482, a autonomia da Borgonha foi posta em causa pelo seu marido Habsburgo, Maximiliano I (1459-1519), filho de Frederico III. Depois de anos de guerra e dissidências, a sua filha Margarida restabeleceu a paz após ter sido nomeada regente, em 1507. As razões que levaram os bispos de Lamego a escolher para o seu paço uma série de tapeçarias com tão fortes conotações bélicas, ainda não são bem conhecidas. Talvez as tenham adquirido mais pelas suas qualidades decorativas e ornamentais, que pelas implicações políticas". (Jordan,1988).
A presença do conjunto de tapeçarias flamengas em Lamego, deverá estar relacionada com a acção mecenática de bispos esclarecidos à frente do governo da diocese, empenhados na renovação artística da diocese e na modernização do paço episcopal e respectivo recheio: a D. Fernando Meneses de Vasconcelos, bispo de Lamego, entre 1513-1540, ficará a dever-se a compra, ou mesmo a encomenda, dos primeiros ciclos de panos de história nos quais se inclui a série de Édipo.
Esta e as outras tapeçarias que fazem parte da série de Édipo, encontravam-se a forrar as paredes das salas de recepção e do trono, onde as viram e estudaram José Júlio Rodrigues (1908) e Joaquim de Vasconcelos, que a elas se refere no seu livro Arte Religiosa em Portugal, no qual chama a atenção para a acção do Bispo D. Francisco José Ribeiro Vieira de Brito (1901-1911), que as mandou tirar de arcas escuras onde se encontravam enroladas e dobradas sujeitos à acção dos vermes e as colocou nas referidas salas. "Criado o Museu a 20 de Junho de 1917, o seu Director, João Amaral , retirou-as das paredes onde se encontravam pregadas e armou alguns panos que se encontravam fragmentados.
Em 1940 foi atribuída a verba de vinte e cinco mil escudos para o restauro, verba que ficou à disposição da 6ª secção da Junta Nacional de Educação. Não chegou, porém, a verba a ser utilizada em virtude de não haver em Portugal nenhuma oficina de restauro de têxteis e a guerra não permitir o envio de panos para o estrangeiro. Somente em 1956, com a criação da Oficina de Restauro de Têxteis, que funcionava no antigo Instituto José Figueiredo (actual IPCR), foi possível beneficiar este núcleo de tapeçarias" (Flórido, 1986)
Bibliografia | AMARAL, João - Le Musee de Lamego in L' Art Vivant: 1934, pág. -461 | AMARAL, João - Roteiro Ilustrado da Cidade de Lamego. Lamego: 1961, pág. -63-65 | AML Livro de Registo de Correspondência Expedida do Museu, Arq. do Museu de Lamego, 1917-196..., pág. Ofs.486-487 | CORREIA, Vergilio - Monumentos e Esculturas. Lisboa: 1924, pág. 114-116 | COSTA, Manuel Gonçalves - História do Bispado e Cidade de Lamego. Renascimento - I, vol. 3. Lamego: 1982, pág. - | FLÓRIDO, Abel Montenegro - Tapeçarias Flamengas do Museu de Lamego. Lamego: Museu de Lamego /IPPC, 1986, pág. -n.6 | Guia de Portugal. Trás-os-Montes e Alto Douro. II- Lamego, Bragança e Miranda, vol. 5. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, pág. -670-671 | GUIMARÃES, Alfredo; SARDOEIRA, Albano - Mobiliário Artístico Português (Elementos para a sua História) - I- Lamego. Porto: Marques de Abreu, 1924, pág. -49 | JORDAN, Annemarie - Tapeçaria, Museu de Lamego. Roteiro. Lisboa: Museu de Lamego/IPM, 1998, pág. 45 | MENDONÇA, Maria José - Relação dos panos de Rás existentes nas colecções do Estado. Lisboa: Academia Nacional de Belas Art, 1940, pág. -34 | MENDONÇA, Maria JosÉ - Tapeçarias do Século XVI. Lisboa: IPPC, pág. -22, n.º6 | PASSOS, Carlos - Lamego na Arte Nacional: 1933, pág. 49-37 | QUINA, Maria Antónia; MOREIRA, Rafael e PESSOA, José - Tapeçarias Flamengas do Museu de Lamego. Lisboa: IPM, 2005, pág. - | VASCONCELOS, Joaquim - A Arte Religiosa em Portugal. Lisboa: Vega, 1994, pág. -49 | |
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