Origem / Historial:
JOAQUIM JOSÉ GALRÃO: o luthier obscuro
Joaquim José Galrão foi um fabricante muito hábil de instrumentos de cordas que teve a sua oficina em Lisboa durante o séc. XVIII. Destaca-se de todos os outros construtores pelo requinte dos instrumentos que produziu, mas sobre a sua vida não sabemos praticamente nada.
Segundo Christian Bayon, construtor de violoncelos e violinos estabelecido em Lisboa e conhecedor profundo da colecção do Museu da Música, Galrão foi, sem sombra de dúvidas, o melhor construtor português de violinos e violoncelos do séc. XVIII. A sua arte revela que não era autodidacta, mas não existe nenhuma pista sobre o país onde terá aprendido. No entanto, tanto o estilo de construção como a presença, à altura, de músicos italianos na Capela Real, sugerem Itália como uma boa hipótese.
Christian Bayon procurou, ao longo dos anos, localizar outros instrumentos do mesmo construtor e examinou ao todo dez exemplares: os cinco da colecção do Museu da Música (dois violinos, dois violoncelos e uma viola), um violoncelo que se encontra no Conservatório de Lisboa, um violino do Conservatório do Porto e mais três exemplares de particulares, um deles localizado em Espanha.
O violino MM 74 da colecção do Museu da Música é o instrumento mais recente que se conhece deste construtor (data de 1794) . Num outro violoncelo da colecção do Museu Nacional da Música, datado de 1797, do construtor Felix António Dinis, pode ler-se
Felis Antonio Dinis
o fes em Caza da Viuva de Galram
Anno 1797
É de deduzir que Dinis tenha sido aluno de Galrão e se tenha estabelecido em casa da viúva, após a morte do mestre, até porque o violoncelo do Conservatório de Lisboa é em tudo semelhante ao violoncelo Dinis da colecção do Museu da Música.
Galrão terá então falecido entre 1794 e 1797.
No Diccionario Biographico de Musicos Portuguezes de Ernesto Vieira (edição de 1900), podemos ler: "Apezar de serem estimadíssimos e cotados por elevado preço os raros instrumentos de Galrão que teem apparecido, viveu elle bem obscuramente, pois que ainda não pude obter a seu respeito a mais insignificante noticia biographica. Apenas poderei, por agora, reproduzir o que se sabe pelos disticos dos instrumentos, nos quaes se lê a data em que os construiu (...)
No museu de el-rei o senhor D. Carlos, creado por seu fallecido pae, guardam-se com grande estimação dois violinos, uma viola e um violoncello d'este fabricante, que tem a seguinte etiqueta: Joachim Joseph Galram, fecit Olesiponae 1769".
D. Luís, rei de Portugal (1838-1889), filho de D. Fernando, da Saxónia-Coburgo-Gota, e da rainha D. Maria II, subiu ao trono após a morte de seu irmão, D. Pedro V. Casou-se com a princesa Maria Pia de Sabóia. Dotado de sensibilidade artística, pintava, tocava piano e violoncelo, e compunha. Iniciou os seus estudos musicais com o Mestre Capela - Manuel Inocêncio Liberato dos Santos - incumbido do ensino da música aos infantes. Com o seu preceptor, o violoncelista visconde da Carreira, aprendeu violoncelo.
Nos serões musicais familiares, tão ao gosto do século XIX, tocava piano ou violoncelo, enquanto seu pai, D. Fernando, cantava. Deslocava-se muitas vezes ao teatro São Carlos para assistir a espectáculos de ópera e organizava com regularidade concertos no palácio da Ajuda, em que também se assumia como executante.
Como compositor, D. Luís deixou-nos algumas obras musicais: uma Avé Maria, uma Barcarola, uma Missa (a parte de violoncelo) e cinco valsas.
Parte do seu acervo instrumental encontra-se agora no Museu da Música. São de realçar o violoncelo Stradivari, um harmónio e o piano de Liszt (vendido a D. Maria II e por ela doado a Manuel Inocêncio dos Santos).