Origem / Historial:
Da coleção do Dr. Joaquim Manso fazem parte duas caricaturas (55 e 103 des.) de Armando Boaventura sobre José Leite de Vasconcelos (1858-1941), pioneiro da filologia e da arqueologia e etnografia portuguesas.
Fundador da revista “Lusitana” (1889), do “Arqueólogo Português” (1895) e do Museu Etnológico de Belém (1893), que viria a ter o seu nome (atual Museu Nacional de Arqueologia). Foi ainda conservador na Biblioteca Nacional e professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Entre as suas obras destacam-se “Religiões da Lusitânia” (1897-1913, 3 volumes), “Etnologia Portuguesa” (8 volumes), “Antroponímia Portuguesa” (1928) e “Romanceiro português” (2 volumes, 1958).
Esta caricatura fazia parte da coleção do Dr. Joaquim Manso, fundador e diretor do jornal "Diário de Lisboa". Foi publicada neste periódico a 6 setembro de 1924, acompanhando o artigo escrito pelo Dr. Joaquim Manso sobre o retratado e intitulado “Um sábio”. Este foi um número dedicado à viagem de estudo realizada em junho de 1924 aos Açores, por artistas, escritores e intelectuais, a convite do jornal "Correio dos Açores", para visitar o arquipélago e celebrar o nome de Antero de Quental. Foram realizadas várias conferências e leituras, nomeadamente pelo Conde da Nova Goa (D. Luís de Castro), Dr. Armindo Monteiro, Antero de Figueiredo, Dr. Agnelo Casimiro, Dr. Luís de Bettencourt, Dr. Luís de Magalhães, Oldemiro Cesar, entre outros. Da comitiva fazia também parte o Dr. José Leite de Vasconcelos. O Dr. Joaquim Manso pronunciou o discurso de despedida. Várias caricaturas realizadas pelo artista Armando Boaventura, que também integrou o grupo de estudo, faziam parte da coleção do Dr. Joaquim Manso, tendo algumas sido publicadas naquele número do "Diário de Lisboa".
Excerto do artigo escrito por Joaquim Manso, a propósito do seu encontro com o Dr. Leite de Vasconcelos:
“Na viagem de estudo aos Açores, tivemos o feliz ensejo de conhecer o sr. dr. Leite de Vasconcelos, professor ilustre da Faculdade de Letras, director do Museu Etnológico, antigo poeta e alma sempre suspensa no deslumbramento das coisas belas, historiador, folk-lorista, glotologo e romancista. (…) Foi já a bordo do Lima que no-lo indicaram, quando ele, de pé sobre o convez, encarava vagamente a turba que se apinhava no cais.
Na cabeça, chapéu preto, de aba elíptica e larga, copa alta, em forma de cone truncado; cache-col de lã, cor de café, uma das pontas atiradas para traz com negligencia; sobretudo preto, severo, que lhe descia até quasi aos tornozelos; para-águas, firmado no chão, a que apoiava as duas mãos magras e pálidas, veiadas em arabescos azulados... (…)
Trocámos as primeiras palavras à mesa do almoço: o sr. dr. Leite de Vasconcelos sentia-se com um apetite disperto, robusto, e afirmava haver comprado por 20$00 umas pílulas que combatiam o enjôo. (…)
Os acontecimentos, porém, não foram propícios aos seus sonhos de sábio convertido em nauta: as pílulas não tiveram a eficácia que ele esperava e as suculentas refeições de bordo alguma vez lhe ficaram indiferentes.”