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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Francisco Tavares Proença Júnior
N.º de Inventário:
10.63 MFTPJ
Supercategoria:
Arqueologia
Categoria:
Epigrafia
Denominação:
Estátua-menir
Autor:
Desconhecido
Datação:
IX a.C. - VIII a.C.
Matéria:
Granito rosa
Técnica:
Gravação
Dimensões (cm):
altura: 150; largura: 63; espessura: 38;
Descrição:
Este monumento é uma das três peças recolhidas por Francisco Tavares Proença Júnior, em Setembro de 1903, no Monte de S. Martinho, Castelo Branco, situado a cerca de 2 km a sudeste daquela cidade (PROENÇA, 1903a; 1903b; 1905a; 1906a). Trata-se de um monólito de granito rosa, de grão fino, comum na região. Apresenta forma paralelepipédica, de contornos sub-rectangulares, medindo 1,50 m de comprimento, por 0,58 a 0,63 m de largura; a espessura oscila entre 0,13 e 0,38 m. A peça encontra-se fragmentada no topo. A base foi toscamente talhada, mas bem marcada; é definida por um pequeno ressalto mais largo do que as restantes superfícies, indicando, juntamente com a organização dos elementos gravados, que foi concebida para ser colocada na vertical. A "estela", como acabou por ser denominada, assume, pela configuração geral, tridimencionalidade e disposição figurativa, o estatuto de uma verdadeira "estátua-menir", ou "proto-estátua" (GOMES e MONTEIRO, 1976-1977: 319; VILAÇA, 1995: 402), aspecto já reconhecido por Tavares Proença ao legendá-la de "Statue-Menhir" (1906a: 283). Contrariamente ao que Mortillet (1905) admitiu, defendendo a possibilidade das duas faces principais terem sido gravadas, parece confirmar-se a existência de gravuras numa só face. Sublinhe-se, no entanto, que as três faces não gravadas foram também alisadas. Os sulcos foram obtidos por picotagem no terço inferior, enquanto os restantes terão sofrido um processo de abrasão com instrumento de ponta metálica. A profundidade daqueles varia entre 0,2 e 0,3 cm; os sulcos dos outros dois terços apresentam a profundidade de 0,1 e 0,2 cm. A face gravada é composta, ao nível da cintura, por duas linhas horizontais e paralelas entre si, preenchidas por vinte e três covinhas alinhadas, que podem ser interpretadas como um cinturão. Da linha horizontal inferior pendem dezasseis linhas paralelas e verticais, de dimensão irregular, interpretadas como as pregas de uma túnica presa ao cinturão (MORTILLET, 1905; BREUIL, 1935: 111; GOMES e MONTEIRO, 1976-1977: 319-320). Esta hipótese afigura-se-nos como a mais credível, tendo em conta vários exemplares, de cronologia díspar, peninsulares, mas não só, com cinturão ou cinturão e franjas pendentes da túnica, como alguns do grupo de "Hernán Pérez", Cáceres, Granja de Toniñuelo, Badajoz (ALMAGRO BASCH, 1972), Alto da Escrita, Tabuaço (CARVALHO, GOMES e FRANCISCO, 1999), Nave 1 e Nave 2, Moimenta da Beira (CRUZ, 2001: 173-175), El Millarón, Cáceres (BUENO RAMÍREZ, 1990: 101), entre outros. Almagro considerou, não sem reservas, que esses traços verticais poderiam representar uma grelha de assar (1966: 32). A parte central desta estrutura compositiva está dividida por duas linhas verticais curvas e reversas entre si; partem do terço superior do suporte (fragmentado), primeiro, paralelas entre si (duas correias de suspensão?), depois, formando uma figura subtrapezoidal, com os lados maiores côncavos, unidos, na base, por uma linha convexa (ausente em certos levantamentos), sobre o cinturão. Trata-se de figura enigmática, o que explica o silêncio de alguns, mas também a diversidade de interpretações existentes. Mortillet (1905) viu nela a representação de um véu ou a parte pendente de um penteado (o autor tinha considerado esta face do monumento como a posterior). Almagro (1966: 32) admitiu, com reserva, tratar-se de dois arcos verticais de dupla curva. Susana Jorge (1990: 239) avançou com a possibilidade, sem especificar, de se tratar de uma arma. A hipótese de corresponder, pela similitude formal e posição centralizada, à mesma figura que encontramos em algumas estátuas-menir, como Chaves, Faiões e Bouça (a que podemos juntar, entre outros, o recente achado de Ataúdes, Figueira de Castelo Rodrigo, Vilaça et al., 2001), considerada insígnia ou símbolo de poder sócio-religioso, foi igualmente defendida (VILAÇA, 1995: 403). Naquele trabalho o assunto é discutido, apontando-se também os casos (Longroiva, Nave 2, ou Preixana, por exemplo) em que tal figura parece corporizar o próprio personagem. A sua forma lembra ainda os lingotes "bipenes", conhecidos desde o Bronze Antigo na Europa, ou em "pele de boi", mais tardios e de cariz mediterrânico-oriental (VILAÇA et al., 2001). Recentemente foi proposta, no âmbito de um estudo reinterpretativo do monumento, uma reconstituição integral, e ousada, do mesmo: a figura central corresponderia ao corpo de uma divindade - Oipaingia -, cujos braços (e não armas como tem sido proposto), pendentes, protegiam os dois pequenos personagens, de guerreiros, que ladeiam aquela (ALARCÃO, 2001: 333-334). A função protectora exprimir-se-ia pela atitude da figura central e saíria reforçada pela própria simbologia da configuração do corpo se considerarmos, juntamente com Almagro Gorbea que aquela forma representaria um kardiophilax, isto é, um colar apotropaico, com um valor protector (1993: 126). Os corpos biconvexos, que se repetem nos dois pequenos personagens (aliás como também no corpo da figurinha orante com espada atravessada à cintura da rocha 1 de Fratel, ou no antropomorfo da estela de Figueira) poderiam ser ainda, aceitando a sugestão de Almagro Gorbea (1993: 126 e 128), comparáveis aos colares orientais de "keftiu", símbolos de riqueza e de poder. De cada lado da figura central encontramos um antropomorfo em phi. A gravura da esquerda representa uma figura humana, onde se podem distinguir os braços arqueados, as pernas, os pés e o pescoço bem delineado. Da cabeça partem duas linhas curvas que aparentam ser um capacete de cornos (BREUIL, 1935: 111; ALMAGRO BASCH, 1966: 32; GOMES e MONTEIRO, 1976-1977: 319). Tavares Proença pensou poder tratar-se da representação de um homem com um vaso sobre a cabeça (1905a: 13). A figura da direita é muito semelhante à anterior, mas apresenta um círculo, interpretado como escudo, que envolve e cobre o centro do corpo (ALMAGRO BASCH, 1966: 32). As duas linhas sinuosas representariam um capacete de cornos bastante esquemático. A interpretação mais recente vê antes na linha da esquerda, que arranca do ombro e não da cabeça da figura, a representação de um braço erguido em adoração (AlARCÃO, 2001: 334). Sobre os dois antropomorfos observam-se duas figuras, incompletas, que Almagro considerou serem uma espada e uma maça (1966: 34). Conforme já referimos, a visualização de uma figura tutelar, gigante e central neste monumento, anula essa identificação, considerando antes que corresponderão a uma representação estilizada dos braços da figura central (ALARCÃO, 2001: 334). A enorme assimetria entre si, quer na dimensão, quer na forma, coloca, talvez, alguns entraves a este raciocínio, ficando também por compreender as três linhas transversais (nem sempre representadas) que parecem unir a suposta maça de Almagro à figura central. O carácter especial deste monumento foi sublinhado por Almagro Gorbea (1977: 177), ao considerar, com base na existência dos dois pequenos personagens, que se trataria de uma estela dupla, o que contraria o cunho fortemente individual deste tipo de monumentos. Também Anati (ref. por GOMES e MONTEIRO, 1976-1977: 321) se debruçou sobre o problema, considerando que se trataria do princípio de opor, no interior de uma grande entidade antropomórfica, duas figuras mais pequenas. O facto de estarmos perante duas figuras de guerreiros, geminadas, independentemente de se atribuir, ou não, um carácter antropomórfico, ao motivo central, não deverá excluir, conforme já foi notado (VILAÇA, 1995: 405), a hipótese de esse registo simbolizar a existência de lideranças duplas ao nível do poder (num sentido amplo) regional. A atipicidade deste decorre ainda da conjugação de elementos de cronologias aparentemente díspares. Por um lado, o cinturão é característico das "estelas" do grupo de "Hurdes-Gata", cuja cronologia remete para o Bronze Antigo; por outro lado, os supostos capacetes e eventuais escudos serão muito mais tardios, já do Bronze Final. Também a figura central, aceitando a hipótese de se tratar de insígnia ou símbolo de poder não ajuda, visto que se repete em monumentos de distintas épocas (VILAÇA et al., 2001). Será que estamos perante uma peça do mundo "Hurdes-Gata", reaproveitada? O cinturão pertence-lhe, mas o tipo, forma e dimensão do suporte, nem por isso. A alteração e transformação de estátuas-menir, estelas, etc., acrescentando novos elementos ou, pelo contrário, rasurando outros, poderá ter sido mais frequente do que supomos. Ou será que se trata de um monumento concebido no Bronze Final, na tradição das estelas antropomórficas, que assimilou e reinterpretou arcaísmos culturais próprios do Centro-ocidental-interior da Península? Infelizmente, esta magnífica, quanto enigmática peça, encontra-se destruída na parte superior, pelo que qualquer interpretação e reconstituição serão sempre exercícios arriscados mas, sem eles, o interesse da peça há muito que estaria esgotado. Descrição de Raquel Vilaça, Santos, A. T. e Marques, J. N. (2004)
Incorporação:
Doação - Francisco Tavares Proença Júnior
Proveniência:
Monte de São Martinho.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: clasificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e aequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo; N.º 19/2006; 18/07/2006*
 
     
     
   
     
     
     
 
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