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FICHA DE INVENTÁRIO
Denominação: O Génio das Artes - Erato Título: O Génio das Artes - Erato Autor: Fonseca, António Manuel da Dimensões (cm): altura: 54; largura: 43; Descrição: Busto de mulher de perfil, com rosto de frente, de cabelo ondulado caído do lado direito sobre o ombro, vestido branco com amplo decote, orlado com renda branca, manto vermelho ornamentado com letras, seguro por um alfinete dourado.
A figura feminina ostenta na cabeça uma coroa de louros e na fronte uma coroa dourada com flor de brilhantes ao centro, brincos dourados com lágrima branca pendente e pulseira igualmente dourada com pedras coloridas e letras inscritas. Ao pescoço apresenta um fio dourado com medalha volumosa oval, com o relevo de um casal, de perfil, encimada por uma coroa imperial. A mulher segura nas mão a medalha que parece exibir ao observador. Na mão esquerda segura ainda uma caneta dourada. Trata-se de uma figura nobre detentora de grande sensualidade.
Esta musa da mitologia grega, filha de Zeus, está identificada através do nome inscrito na sua pulseira. Erato está associada à música, poesia lírica, mas também das belas artes, e o seu nome significa “amável”, já que os artistas por ela inspirados seriam dignos de apreço e admiração. Esta alegoria mostra uma donzela, glorificada com uma coroa de louros, atributo dos poetas, e com um diadema com uma estrela resplandecente, simbolizando a genialidade. No seu manto inscrevem-se os nomes de diversos pintores e poetas, nas suas mãos está uma lapiseira, o instrumento que permite representar a criação artística, e um medalhão com as efígies dos patronos das artes, neste caso dos reis D. Maria II e D. Fernando. Incorporação: Compra - Aquisição no Leilão Ameal, Coimbra
Origem / Historial: António Manuel da Fonseca (1796-1890) é um pintor de referência no panorama da pintura neoclássica portuguesa, representativa do Academismo Romano, desenvolvendo uma temática muito associada às cenas históricas e mitológicas.
Tipo | Descrição | Imagem | Iconografia | António Manuel da Fonseca (1796-1890) pinta a figura de uma jovem mulher coroada de louros, segurando na mão esquerda um medalhão oval e na outra uma lapiseira. No medalhão estão representados, em relevo, duas figuras que se depreende serem da realeza. A figura ostenta ainda uma pulseira de ouro e pedras preciosas onde se pode ler «Erato»; Erato que é a musa da poesia lírica. Na barra do manto carmesim que a jovem mulher enverga lê-se a frase «Pictoribus atque poetis», e em todo o resto do manto mostra, bordados a ouro, os nomes dos pintores mais famosos da história da arte do Ocidente, Apeles, Miguel Ângelo, Rafael Sanzio, etc. A conjunção destes elementos remete para o significado da expressão latina escrita no debrum do manto, retirada da arte poética de Horácio, que pode completar-se traduzida como «pintores e poetas sempre tiveram licença para ousar». Trata-se da afirmação da liberdade poética que está na origem da criação tanto da pintura como da poesia. «A poesia é pintura falante, a pintura é poesia muda», como tinha afirmado Simonides de Keos muitos séculos antes. A «ut pictura poesis» horaciana baseia-se no princípio platónico de que toda a criação depende da «ideia» e que, portanto, ambas as artes são a mesma coisa. Libertava-se assim a pintura do jugo da mecanicidade a que estava sujeita pela mão que a executa.
Foi exatamente este teor que António Manuel da Fonseca quis dar à pintura, ao envolver a representação da figura numa aura poética: com esta opção anuncia já o romantismo. Na subtileza poética da representação alegórica podemos perscrutar o recorte de um retrato, o da musa inspiradora do artista, a sua própria mulher.
Fonseca deverá ter pintado esta alegoria à pintura por altura da criação da Academia de Belas Artes, em 1836, acreditando que as artes ganhariam a partir de então, e definitivamente, estatuto liberal. Para a garantia desta liberdade contava com o apoio dos jovens reis que fez representar no medalhão mostrado pela figura.
De facto, foi com o apoio da rainha D. Maria II e do seu consorte D. Fernando II, que vemos representados no relevo ainda muito jovens, que a Academia foi criada. D. Fernando nunca terá esquecido esta homenagem, pois conservou esta pintura sempre consigo como pode ver-se em fotografia, datada de 1885, captada no seu Gabinete de Toilette do Palácio das Necessidades (Teixeira, 1986, p. 200).
Anísio Franco
In “Identidades, Pronomes e Emoções. As Regras do Retrato, Museu Nacional Grão Vasco, 2019”
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