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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
A 0016
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Sela à portuguesa
Título:
Sela à portuguesa do arreio de montada de cavalaria dos Fiéis de S. Jorge, na Procissão do Corpo de Deus
Autor:
Desconhecido
Local de Execução:
Portugal
Datação:
XIX d.C.
Matéria:
Couro e Camurça
Dimensões (cm):
comprimento: 47 cm;
Descrição:
Sela dita à portuguesa, espécie de coxim fundo, de abas de corte direito, alta no cepinho e com uma golilha larga e pronunciada. Para segurança adicional, o coxim era feito de forma que o cavaleiro pudesse encaixar as coxas. A sela é forrada a couro, tem o cepinho decorado com ponteados e incisões formando desenhos de folhagem e apicações de pregaria e a golilha decorada apenas com pregaria. O coxim é forrado de camurça ponteada. Presa à traseira da sela, encontra-se uma pequena almofada, para proteger o cavalo do roçar da fivela de ligação à correia do rabicho. Estado de S. Jorge na Procissão do Corpo de Deus.
Incorporação:
Afectação Permanente - Administração da extinta Casa Real, Fundo Antigo do Museu
Origem / Historial:
A procissão do Corpo de Deus era uma das mais solenes festas religiosas da cidade de Lisboa. Ainda hoje é muito discutível a origem da Procissão do Corpo de Deus, defendendo alguns autores a sua contemporaneidade em relação à festa, instituída em 1264 por Bula de Urbano IV. No caso português, não raras vezes se pretendeu que a procissão tivesse sido realizada pela primeira vez no terceiro quartel do século XIII (reinado de D. Dinis ,1280). Implicitamente, atribuía-se à sua antiguidade a relevância que ela viria a ter no território nacional, encabeçando o longo rol de manifestações de cariz religioso. A partir de 1387, a imagem de S. Jorge começou a figurar na Procissão do Corpo de Deus, fruto da devoção de D. João I que, no decurso da Batalha de Aljubarrota, havia criado um novo grito de guerra ao invocar aquele santo em vez de S. Tiago. A partir de então, a crença em S. Jorge, fomentada pelo próprio monarca e pelo Condestável do Reino, adquiriu proporções tamanhas que, pelo estatutos do Senado, foi instituída uma procissão em sua honra (23 de Abril), ao mesmo tempo que o fundador da dinastia de Avis fazia dele titular do castelo de Lisboa. O seu estandarte foi integrado nas bandeiras da Casa dos Vinte e Quatro, "(...) composta de todos os officios que trabalhavam em ferro e fogo.", à frente dos quais se encontravam os barbeiros e os espadeiros. A seu cargo ficaria a imagem do Santo, que sempre acompanhavam durante a procissão. No "Título do Regimento da Festa do Corpo de Deus", datado de 1517, pode ler-se: "Os Barbeiros, e Ferradores sam obrigados de fazerem uma bandeira rica, e nella hande levar S. Jorge pintado, e cada Barbeiro, e ferrador, hade dar um homem darmas bem disposto, que leve boas armas, bem limpas e louçaans (...)" Por esta altura, a imagem de S. Jorge estava já acomodada em capela própria na igreja do Hospital de Todos-os-Santos, onde se manteve até 1750, data em que passou para a Igreja de Santa Cruz, no Castelo. Celebrada em Portugal desde o séc. XIII, foi o rei D. João I quem, em 1387, determinou que a imagem de S. Jorge, armado cavaleiro e defensor do Reino, acompanhasse a procissão do Corpo de Deus. A imagem do santo, trajada à militar, numa alusão directa ao Mestre de Avis e à vitória de 1385, mas recordando também a sua patente de General, seguia montada num cavalo branco onde era colocada por membros da Irmandade e era ladeada à esquerda por um jovem Pajem a cavalo envergando traje de gala e à direita por um cavaleiro, designado por Homem de Ferro, na qualidade de alferes do santo. A presença do Pagem reporta-se ao episódio da morte do dragão, como sugere um Regimento que acompanhava uma carta régia de D. João II, datada de 10 de Março de 1483. Na Procissão do Corpus Christi, S. Jorge precedia as bandeiras dos ofícios, juntamente com o seu estado, composto por tambores a pé, trombeteiros a cavalo, 46 cavalos com arreios de prata e bronze dourado, logo seguidos dos atabales reais e de doze trombeteiros com instrumentos de prata. Acompanhava-os um grupo de negrinhos a pé com tambores. A partir de 1719, no sexagésimo dia depois do domingo de Páscoa, numa quinta feira, a procissão saía da igreja de S. Domingos, depois do toque das Trindades do meio dia, e percorria um itinerário que ia da Patriarcal (no Paço da Ribeira) ao Rossio, regressando ao ponto de partida pelo Terreiro do Paço. Embora o percurso fosse pouco extenso, demorava algumas horas a ser concluído.(A procissão saía pela Campainha,Tanoaria, rua dos Ourives do Ouro, Douradoures, rua dos Escudeiros, Rossio donde hé-de voltar pela rua das arcas, por detrás da igreja de S. Nicolau, Correaria, ourives da Prata e no fim há-de voltar pela rua Nova , Arco dos pregos e recolher ao Terreito do Paço , ruas de Lisboa antes do terramoto.) Integravam a procissão uma parafrenália de cavalos da Casa Real ricamente ajaezados e conduzidos à mão por criados com librés de gala, os pretinhos tocavam tambores, cornetas e pífaros ornamentados com as respectivas bandeirolas e ostentando chapéus armados. A personagem do Homem de Ferro vestida com uma pesada armadura do séc XIV era representada por um galego de fretes que, em troca da sua prestação, recebia uma moeda de ouro, uma galinha e uma "sangria", curativo muito apreciado para alívio de diversos males. O pajem era personificado quer por um rapaz muito jovem quer por uma rapariga envergando traje vistoso. A procissão completava-se com desfile de inúmeras confrarias e ordens religiosas, que precediam a autoridade eclesiástica da diocese de Lisboa, albergada sob o pálio. Por fim o Rei, os seus ministros e a Corte, acompanhados pela Guarda Real de Archeiros. A organização do "estado de S. Jorge" exigia o estrito cumprimento de um antigo ritual que tinha início na madrugada de quinta feira , quando os "pretinhos" saíam do Castelo e iam buscar às cavalariças reias da Calçada da Ajuda, os cavalos e lacaios necessários ao desfile. regressados ao centro da cidade, subiam de novo as Castelo onde se reuniam ao Homem de Ferro, ao Pajem e ao Santo. Colocado este sobre o seu cavalo, o préstito rumava a casa do Duque de Cadaval, que anualmente cedia o elegante chapéu ornado com profusas e esplêndidas jóias, ostentado pelo Santo. Finda a procissão todo o cerimonial se repetia, com a devolução do chapéu ao Duque, a colocação da imagem na sua capela do Castelo e a entrega dos cavalos nas cavalariças de Belém. " Foi D. João V que transformou a procissão do Corpo de Deus num imponente festejo religioso ...Mandou armar com preciosa sedas todas as ruas por onde passava a procissão e cobriu-as de toldos de damasco. O chão era alcatifado com ervas agradáveis ao olfato e também com vistosas flores... Ordenou que se levantasse no Terreiro do Paço, desde a parede do palácio real até à ponta do Arco dos Pregos, uma colunata de madeira lavrada e ornada de pinturas...Em 1719 o arquiteto Frederico Ludovice, ajudado por Claude Laprade, foi encarregado da ornamentação das ruas... A ornamentação era habitual mas D. João V aumentou estas despesas de tal maneira que novos impostos camarários se tornaram imprescíndiveis... Aquilo que era anteriormente um espectáculo para o povo, que se divertia com os carros e as danças oferecidas pelas corporações de ofícios, passou a ser uma manifestação do poder régio..." In SILVA, Maria Beatriz Nizza, D. João V, Lisboa, Cículo de Leitores, 2011. Documentação manuscrita e fotográfica comprova a utilização do arreio que actualmente integra o espólio do M.N.C. na Procissão do Corpo de Deus realizada em Lisboa em 14 de Junho de 1906, 10 de Junho de 1909 e 26 de Maio de 1910. Nas duas últimas datas, pelo menos, a procissão foi organizada pela Irmandade do Santíssimo da freguesia de Santa Cruz do Castelo, administradora dos bens e serviços do culto ao mártir S. Jorge.
 
     
     
   
     
     
     
 
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