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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
V 0022
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Coche
Título:
Coche de D. José I
Autor:
Machado, Cirilo Volkmar (Lisboa, 1748 - 1823)
Local de Execução:
Portugal.
Datação:
1750 d.C. - 1775 d.C.
Matéria:
Madeira (carvalho e/ou azinho); bronze; couro; vidro; veludo de seda; tafetá de seda
Técnica:
Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; bronze fundido em molde, martelado, puncionado e dourado; veludo cinzelado sobre cetim e lhama de ouro e veludo cortado
Dimensões (cm):
altura: 298; largura: 225; espessura: 5 / 5,7 (rodas dianteiras e traseiras); diâmetro: 83 / 189 (rodas dianteiras e traseiras); comprimento: 642;
Descrição:
Coche de caixa fechada, montada sobre quatro rodas e suspensa de fortes correias de couro dispostas obliquamente entre os ângulos inferiores e os montantes. Profusamente decorado com esculturas de vulto, o dourado da caixa provoca forte contraste com o vermelho dos rodados e do tejadilho. A caixa é fechada por duas portinholas e por sete vidraças, as das portinholas biseladas e as dianteira e anterior esquerda, mais antigas. Os eixos dos rodados estão ligados por um varal longitudinal de secção quadrangular, levemente arqueado, truncado e mais largo nas extremidades, onde é lavrado e reforçado por aros canelados e dourados. Este prolonga-se na parte anterior do carro por dois arcos ditos em "pescoço de cisne" que o ligam à "quinta roda" e ajudam a manobrar a viatura. Finos e canelados, estes arcos são interrompidos ao centro por nó oitavado, para o qual confluem dois meios-balaústres facetados. O sistema de suspensão é composto por duplos correões de couro, os externos revestidos de veludo carmesim e verde amarelado e os internos de couro vermelho. Tanto estes correões como as tesouras de segurança possuem fivelões de bronze ovalados e recortados, com decoração vegetalista contida e pouco relevada; os respectivos fusilhões, bastante grossos, são rematados por uma placa triangular lavrada com os mesmos motivos, que também se repetem nos passadores. Na parte posterior da viatura subsiste apenas uma das duas travessas de segurança que ligavam a caixa aos montantes. No cabeçal traseiro, a estrutura é dissimulada pela profusão de ornatos e pela animada figuração escultórica que excede, tanto em altura como em largura, as dimensões da própria caixa. Os montantes e a moldura superior definem um vão pentagonal, dentro do qual se inscreve um querubim em vulto perfeito, circundado de flores. A moldura superior é rematada por frontão interrompido sobrepujado pela águia imperial; dois querubins situados nos vértices superiores sustentam uma ampla grinalda da qual pende um terceiro querubim, este representado de costas. Não possui supedâneo (vulgo "tábua") para o moço da tábua. De um gancho metálico fixo à face externa do eixo do rodado pende um calço em madeira de pinho, que não pertence à viatura. As rodas traseiras são constituídas por seis pinas interlidas por "gatos" de ferro e cingidas no extradorso por espesso aro metálico munido de pequenas cavilhas (quatro por pina). Possuem doze raios contracurvados, oblíquos e convergentes, ornamentados com caneluras simples nas faces laterais. A massa, limitada por dois batentes de madeira canelados, adelgaça progressivamente em direcção ao cubo, onde é decorada com acantos e friso de óvulos a ouro. O cubo é cingido por uma estrutura tubular em bronze dourado e cinzelado, terminando em florão haxagonal definido por seis palmetas; fixa-se à madeira por meio de cavilha de ferro que a atravessa verticalmente. O reverso das rodas é liso. O jogo dianteiro é dominado pelo banco do cocheiro e pelo escabelo oblíquo, cingido por imponentes volutas e por cabeças de índios que constituem, aliás, o principal motivo decorativo do coche. A trave que servia de apoio aos pés do cocheiro destaca-se do suporte, sendo contracurvada e rematada por duas volutas. O escabelo assenta sobre a designada "quinta roda", composta por dois círculos sobrepostos. As rodas dianteiras, idênticas às posteriores mas de menor diâmetro, são formadas por oito raios e por quatro pinas; o aro de ferro que as cinge pelo extradorso possui minúsculos pregos achatados, na proporção de um por pina. Na pintura do painel traseiro representa-se uma figura central de aspecto hercúleo, que introduz a mão direita na boca de um leão, simbolizando a "Ousadia Magnânima e Generosa" da Nação Portuguesa e do seu soberano; a intrépida acção é observada por um casal, ele barbado e de aspecto venerando e ela com turbante, que representam o Mundo e as Índias. No canto inferior esquerdo encontra-se um grupo constituído por três personagens, uma das quais a "Fidelidade", com o respectivo cão. O tejadilho, ligeiramente convexo, foi montado a partir de uma armação de meias-asnas rebaixadas e convergentes. É revestido de veludo carmesim liso, com aplicação de galão de ouro sobre enchimento, nos cantos e ao centro, galão esse que desenha motivos geométricos. Os terminais decorativos, em número de oito, foram colocados axialmente em relação às ilhargas da caixa e aos pés-direitos das portinholas. Dividem-se em três registos: o primeiro em forma de urna, de base circular alteada e corpo vazado e decorado com acantos e festões, em alternância; o corpo intermédio é formado por tambor em escócia, vazado e ornamentado com aletas contrapostas e flores-de-lis; o terceiro e último registo, campaniforme, apresenta o centro trabalhado em escócia com motivos vazados, sobrepujado por friso gomado e por um remate esferóide lavrado. Três destes terminais apresentam-se incompletos e/ou quebrados. As ranhuras para encaixe dos puxadores das portinholas são contornadas por moldura laminar em bronze dourado, ornamentada com pequenos motivos vegetalistas desenhados a punção. O interior da caixa, o parsevão (salvo os estribos) e o tecto são revestidos de veludo de seda carmesim, de dois altos, cinzelado sobre fundo de lhama dourada, formando amplas albarradas setecentistas. Ao centro, as armas reais sob coroa, em bordado de aplicação a fio de ouro. O parsevão é ainda contornado por pregaria dourada e os estribos, rectangulares, apresentam um revestimento idêntico ao das almofadas do banco. Nestas, bem como nos respectivos aventais, foi utilizado veludo carmesim de dois altos, cinzelado sobre fundo de seda (cf. observações) da mesma cor. No reverso, os aventais são forrados de damasco carmesim, formando amplas folhas de acanto e a parte inferior das almofadas é de couro castanho. A caixa possui quatro cortinas de tafetá de seda vermelha, franjadas a fio de ouro crespo com torção em "Z". As portinholas são guarnecidas na metade inferior de galão de ouro com 60 mm de largura e contornadas lateral e inferiormente por pregaria; ao centro, possui franja dourada encimada por arcatura do mesmo fio metálico, que contém pequenos círculos de aplicação. A meia altura, as portas formam um estreito parapeito - que corresponde à sua espessura real -, sendo o vão delimitado por cordão de ouro entrançado, do qual arranca uma borla campaniforme, utilizada na elevação da vidraça. A saia do banco do cocheiro concilia os dois tipos de veludo utilizados no revestimento interior da caixa: as abas são de veludo carmesim cinzelado sobre lhama de ouro e o tampo de veludo monocromo de dois altos. É franjada e duplamente agaloada, sendo o galão interno mais estreito. A obra de talha admite-se ser dos escultores José de Almeida e Félix Vicente de Almeida. No exterior, lança nº 24, acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe paralelos) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura). A pintura do alçado traseiro é atribuída a Cirilo Volkmar Machado.
Incorporação:
Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * Segundo a tradição, este coche teria sido mandado construir por D. José I na segunda metade do século XVIII. Muitos dos autores citados pretendem ver ainda semelhanças técnico-formais entre este carro, o coche dito de D. João V (nº invº 12) e a berlinda de D. Maria I (nº invº 39), concluindo que estas afinidades denunciariam um possível trabalho de oficina comum. Antes de ser exposto no Museu, o coche encontrava-se arrecadado no Depósito I da Repartição das Reais Cavalariças, instalado no antigo Picadeiro Real de Belém. Ao longo do século XIX serviu em diversas cerimónias da corte portuguesa: - Baptizado da Infanta D. Antónia, 8 de Abril de 1845 - Funeral do Infante D. Leopoldo, Maio de 1849 - Funeral da Infanta D, Maria, Fevereiro de 1851 - Funeral de S.A. Imperial, D. Maria Amélia, Abril de 1853 - Funeral da Rainha D. Maria II, Novembro de 1853 - Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 de Maio de 1858 - Funeral da Rainha D. Estefânia, Julho de 1859 - Funeral de D. Pedro V, Novembro de 1861 - Casamento de D. Luís I, Outubro de 1862 - Funeral da Rainha D. Carlota Joaquina, Janeiro de 1876 - Funeral de D. Fernando II, Dezembro de 1885 - Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886 - Funeral do Infante D. Augusto, Outubro de 1889 - Funeral de D. Luís I, Outubro de 1889 - Aclamação de D. Carlos I, 28 de Dezembro de 1889 - Funeral da Imperatriz do Brasil, D. Maria Cristina, Janeiro de 1890 - Funeral de D. Pedro II, Imperador do Brasil, 13 de Dezembro de 1891 - Entrega da Rosa de Ouro a D. Amélia, 4 de Julho de 1892 - Visita oficial de Eduardo VII de Inglaterra, Abril de 1903 - Visita oficial de Afonso XIII de Espanha, Dezembro de 1903 - Visita oficial de Imperador Guilherme II da Alemanha, 30 de Março de 1905 - Visita oficial do Presidente da República Francesa, Emile Loubet, 27 de Outubro de 1905. COMENTÁRIO: Pelos motivos que passamos a enumerar, parece-nos infundada a atribuição de propriedade deste coche ao rei D. José I, acreditando tratar-se de um carro português da primeira metade do século XVIII, encomendado por D. João V. Da apreciação estética deste carro ressalta, em primeiro lugar, a estreita afinidade existente entre o trabalho de talha da caixa e jogos e a obra dos entalhadores nacionais setecentistas, tanto a nível da concepção formal como na sobrecarga decorativa, patente sobretudo no cabeçal traseiro da viatura. Em termos estruturais, este carro em pouco difere dos coches parisienses da Embaixada do conde da Ribeira Grande (nºs. invº 7 e 15), com molduras das janelas tendencialmente rectilíneas e o painel do estribo nivelado com o varal de sustentação da caixa. A este tipo de caixa padronizado, foi acoplada uma escultura de alto-relevo que acentua as linhas estruturais e confere maior opulência à viatura, sobretudo quando conjugada com a pintura a óleo sobre fundo dourado que recobre os apainelados. Quanto à decoração pictórica da caixa, não podemos deixar de notar a influência exercida pela plasticidade elegantemente sóbria do coche nº invº 8, dito do Papa Clemente XI. Tal facto não será de estranhar pois, se os modelos artísticos de época eram ainda ditados pela Itália, o coche oferecido pelo Papa a D. João V não poderia deixar indiferentes os artistas nacionais, particularmente aqueles que por inerência do ofício, se encontravam ligados à incipiente indústria de construção de viaturas de aparato, em Portugal. Não obstante, o que ficou dito, há que notar que o tipo de rodas deste carro denuncia o avançado estádio a que esta indústria havia chegado. A mestria dos carpinteiros de jogos e rodados entalhadores é particularmente notória nos raios das rodas, contracurvados e oblíquos, sem prejuízo da necessária perpendicularidade dos mesmos. Note-se que esta inovação técnica havia já sido experimentada noutros carros contemporâneos, mas nunca com tão grande apuro. Não menos importante do que a apreciação estético-formal da peça, é a sua leitura iconológica que, no presente caso está facilitada pelo número limitado de atributos e de figuras alegóricas. As armas reais estão patentes nos painéis das portinholas e no amplo bordado do tecto; a águia imperial domina, majestosa, sobre o cabeçal traseiro, contrapondo-se à pintura do painel posterior onde, a "Ousadia Magnânima e Generosa" do nome português se eleva sobre o Mundo e as Índias, coadjuvada pela fidelidade e lealdade dos súbditos. Se, a tudo isto, se adicionar a simbólica das cabeças de índios disseminadas pela caixa, facilmente se entenderão os desígnios do encomendador deste carro, Senhor de um vasto Império cuja viabilidade económica dependia directamente do Brasil. Como entender, então, que um carro com um tal carga simbólica fosse construído a expensas de D. José I que, ao subir ao trono, herda um império desgastado e delapidado nas suas riquezas pela ambição perdulária de seu pai? Como que corroborando esta hipótese, não podemos deixar de referir uma gravura da autoria de Goutzwiller inserta na "Ilustração Portuguesa" de Abril de 1890, em que se representa este coche acompanhado da legenda "coche de D. João V (1709)", assinalando, no entanto, as divergências decorativas dos painéis das portinholas, onde se distingue um medalhão ovalado com a efígie régia sustido por dois tenentes. Mais, admitindo, como tem sido sustentado até ao presente, que tanto este carro como o coche nº invº 12 (dito de D. João V) seriam obras saídas de oficinas nacionais, ter-se-ia de concluir que houve um claro retrocesso em todas as disciplinas que tradicionalmente se articulam na feitura de uma viatura deste tipo, desde a esculturação da madeira ao trabalho de bordadura e passamanaria. Elsa Garrett Pinho.
 
     
     
   
     
     
     
 
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