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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu: Museu Nacional dos Coches Categoria: Meios de transporte Título: Berlinda de D. Maria I Autores: Faria, Silvestre de
Carvalho, Pedro Alexandrino de (1730 - 1810) Local de Execução: Portugal. Datação: 1780 d.C. - 1790 d.C. Matéria: Madeira; vidro; couro; ferro; bronze; veludo de seda; gaze de seda; seda; Suporte: Madeira de carvalho e/ou azinho (estrutura) Técnica: Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; ferro forjado; bronze fundido a cera perdida e dourado; Dimensões (cm): altura: 275; largura: 189; diâmetro: 82 / 166 (rodas dianteiras e traseiras); comprimento: 568; Descrição: Berlinda de caixa "bombée" (perfil contracurvado), montada sobre quatro rodas e entre dois varais marginais que ligam os eixos dos rodados.
O sistema de suspensão é constituído por dois correões longitudinais de couro castanho, que passam sob a caixa e se enrolam em torno de dois "crics" localizados no jogo traseiro do carro. A caixa liga-se ainda aos varais por meio de correias verticais de couro pespontado a branco, as quais fluem de argolas metálicas - "maõs" - cravadas nos ângulos.
Os varais laterais, contracurvados, são decorados com diversos motivos em talha dourada, entre os quais quatro pares de asas contrapostas e voltadas para os ângulos da caixa. Junto ao eixo do rodado dianteiro, em vulto perfeito, um dragão alado, símbolo da Casa de Bragança. Atendendo à pouco elevação dos varais e, consequentemente da caixa, esta berlinda não possui estribos exteriores.
Na portinhola esquerda, sob baldaquino, representa-se ----- (pastor com vaca ao fundo) adormecido ao som da trombeta de Mercúrio e, sobre esta composição figurativa, o escudo português, certamente um repinte posterior. As figuras foram deliberadamente distorcidas pelo pintor da caixa, servindo esta deformação anatómica de compensação ao perfil contracurvado dos painéis.
No painel superior traseiro representa-se o carro de Apolo (?) ladeado pela Astronomia (esquerda) e pela Geometria (direita). No painel inferior, uma figura feminina com compasso numa das mãos, oferecendo moedas, tendo a seus pés ------.
O cabeçal traseiro é pouco desenvolvido, descrevendo um trapézio juntamente com o eixo das rodas. Tanto os montantes como a moldura superior são decorados com bustos femininos alados e mascarões, sendo esta última parcialmente revestida de couro castanho com pequenos pregos cónicos e cinzelados, pois servia de assento ao "moço da tábua". Na figura principal do cabeçal, foi inciso a goiva o nº "20", respeitante a um antigo inventário. Apensos ao eixo do rodado, dois arcos de madeira facetados e alongados no sentido descendente, com reforços de chaparia metálica; estes arcos substituíam-se aos modernos amortecedores, evitando que todo o peso da berlinda caísse sobre o eixo, caso uma das rodas se soltasse.
As rodas traseiras são formadas por seis pinas ornamentadas na face externa com motivos vegetalistas excisos e lisas no interior; no extradorso são cingidas por aro metálico contínuo, fixo por meio de cavilhas de rosca e de cabeça florenciada, que atravessam as pinas (quatro por pina). Os doze raios, nivelados e rectilíneos, fluem da massa pouco desenvolvida, adelgaçando progressivamente na direcção das pinas.
O tejadilho, montado a partir de uma estrutura de asnas arqueadas e cruzadas, é revestido de couro negro e delimitado por duas fiadas paralelas de pregaria cónica. Ao centro, foi pintado o escudo português. A cornija, contracurvada, é profusamente lavrada com aletas, motivos fitomórficos e mascarões, estes de maior relevo; nos vértices, inscrevem-se volutas proeminentes. É sobrepujado por oito terminais em bronze maciço e em forma de de pirâmide triangular invertida; o segundo dos três registos em que cada um dos terminais se subdivide, corresponde à sua maior largura e é rematado nos vértices por cabeças antropomórficas de vulto perfeito.
No interior, a caixa é revestida de veludo verde cortado, sendo as almofadas dos bancos forradas do mesmo material mas de tonalidade mais escura. O tecto é bordado a fio de ouro laminado, formando medalhão central e respectiva guarnição. Possui cortinas de gaze de seda lavradas a lâmina de ouro e montadas sobre forro de seda crua, com guarnição de galão franjado. O parsevão é revestido de couro vermelho com decoração floral a pontilhado.
A almofada do banco do cocheiro, em estopa de linho com enchimento de palha, respousa sobre uma rede de couro e é coberta por saia de veludo verde acastanhado, com aplicação de galão e franja dourados. O galão contorna as quatro abas laterais, autónomas e forradas de linho verde.
A talha está atribuída a Silvestre Faria Lobo e Barros Laborão.
Não foi ainda encontrada a lança desta viatura mas foram analisadas as medidas dos seus 2 encaixes perpendiculares.
Incorporação: Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
Origem / Historial: * Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 *
De acordo com a tradição, esta berlinda terá sido utilizada pela primeira vez pela rainha D. Maria I em 1790, data da cerimónia da Consagração da Basílica do Sagrado Coração de Jesus (vulgo Basílica da Estrela), em Lisboa.
Tanto a nível da construção como da decoração da caixa, apresenta profundas afinidades com os coches nºs invº 12 e 22, respectivamente designados por Coche de D. João V e Coche de D. José I, sendo por isso de considerar a hipótese de autoria oficinal comum aos três veículos.
Os "amortecedores" referidos na descrição do carro, parecem ter sido uma invenção setecentista de Bento de Moura Portugal, que na sua obra intitulada "Inventos e Vários Planos de Melhoramentos para este Reino, Escritos nas Prisões da Junqueira" (cf. bilbiografia) escrevia: "Alem destas utilidades, e outras menores, em que não fallo, tambem julgo attendivel a addição que fiz nos Coches da Casa Real, para evitar quedas por causa de se quebrarem as rodas e eixos". O autor, nascido em 21 de Março de 1702 em Moimenta da Serra, Gouveia, cedo preteriu a sua formação jurídica para se dedicar às ciências, depois de ter viajado pelo estrangeiro a expensas do rei D. João V (1741-48). Alguns anos após o seu regresso a Portugal, foi encarcerado por ordem do Marquês de Pombal, pois havia defendido publicamente os Távoras e os padres da Companhia de Jesus. Acabou os seus dias no cácere da Junqueira, onde redigiu o presente estudo (tendo por amanuense o Padre João de Matos),que foi salvo graças à pronta intervenção do Conde de S. Lourenço.
No século XIX, a berlinda foi usada pelos Camaristas, tendo servido também em diversas cerimónias da corte:
- Baptizado da Infanta D. Antónia, 8 de Abril de 1845
- Funeral da Infanta D. Maria, Fevereiro de 1851
- Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 de Maio de 1858
- Casamento de D. Luís I, Outubro de 1862
- Embaixada da Birmânia, Janeiro de 1877
- Embaixada Marroquina, Maio de 1878
- Centenário de Luís de Camões, 8 de Junho de 1885
- Embaixada de Espanha, Junho de 1885
- Funeral de D. Fernando II, Dezembro de 1885
- Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886
- Embaixada Espanhola, Maio de 1886
- Funeral da Infanta D. Maria, Dezembro de 1887
- Funeral de D. Luís I, Outubro de 1889
- Embaixada Marroquina, Dezembro de 1891
- Embaixada Inglesa, 1901
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