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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu: Museu Nacional de Etnologia Categoria: Artes plásticas Local de Execução: Enterramento, Ilha de Bissau, Guiné-Bissau Matéria: Madeira, policromia. Dimensões (cm): altura: 22,5cm; largura: 23,5cm; comprimento: 44cm; Descrição: Escultura em madeira, monóxila, que representa o estrangulamento de um homem por uma cobra, constituída por três figuras humanas e uma cobra sobre uma base retangular.
O homem que está a ser estrangulado e a cobra ocupam o centro da peça. Aquele está de joelhos no chão, sentado sobre os calcanhares. O tronco está inclinado para a frente e os braços fletidos junto ao corpo, com as mãos próximas dos joelhos. A sua língua está fora da boca. A cobra tem metade do seu corpo enrolado em três anéis, sobrepostos a partir da base. A outra metade está suspensa e envolve o tronco do homem. À frente e atrás desta cena estão dois homens de pé, de frente um para o outro, com o corpo ligeiramente inclinado para a frente. Os seus braços estão fletidos e uma das mãos apoiadas sobre a cobra. Na outra mão seguram uma faca com a qual tentam cortar a cobra. O primeiro fa-lo na altura da cabeça, e o segundo, no corpo, na altura dos três anéis.
A base está na cor natural da madeira. As figuras humanas estão pintadas de preto. Vestem calção, em relevo, na cor natural da madeira. O homem estrangulado tem a língua pintada de vermelho. A cobra está na cor natural da madeira e encontra-se decorada com listas no formato de setas vermelhas e verde-acinzentadas, aos pares.
A peça apresenta destacamentos de madeira. Ver “Conservação”. Proveniência: Enterramento, Ilha de Bissau, Guiné-bissau.
Origem / Historial: Escultura coletada pelo etnógrafo Fernando Rogado Quintino em 1963, no âmbito da Missão Organizadora do Museu do Ultramar, atual Museu Nacional de Etnologia. Tem autoria atribuída ao escultor Joaquim Có, da etnia papel, na Guiné-Bissau. É parte de um conjunto de 20 objetos deste autor, adquiridos na mesma circunstância, para o acervo do MNE. As esculturas retratam cenas da vida quotidiana da Guiné-Bissau no início da década de 1960 e caracterizam-se por um entalhe e formas de composição recorrentes na obra de Joaquim Có. Os objetos são esculpidos de uma maneira geral em peça única de madeira, com formas arredondadas, apresentando forte expressividade e plasticidade, criando uma idéia de movimento nas cenas representadas.
A Jibóia Africana (phyton sebae) é a serpente do continente africano que atinge as maiores dimensões, até seis metros. Pode ser encontrada por toda a África ao sul do Saara. Vive em regiões de rica vegetação como selvas, matas e savanas, próximo de fontes de água. Alimenta-se de aves e mamíferos. O ataque à presa é feito pela mordedura, enrolamento e a constrição, matando-a por asfixia e esmagamento. Após a ingestão permanece por um período em letargia, sendo muito resistente a longos períodos sem se alimentar. Antes de escolher a sua presa a jibóia africana certifica-se de que o lugar não possui formigas, das quais teme os ataques nos seus períodos de letargia. Por isso, não raro se vê nos terrenos de pastagens por perto sempre um morro de baga baga.
Na Guiné-Bissau a Jibóia africana é conhecida também pelo termo irã cego, referencia ao mundo mágico religioso. O termo irã (ou iran), traduz um conjunto de idéias associadas às forças e seres do mundo sobrenatural, um espírito ancestral, ou mesmo o lugar onde ocorrem cerimónias de culto. Certos animais como a vaca, a onça ou a hiena; e plantas, como o poilão, são considerados protetores e definidores de certas características de determinados grupos, que em contrapartida não os matam, não os comem e não os destroem, sendo ainda consultados a cada augúrio ou decisão a tomar. O Irã cego é representado por uma grande jibóia de olhos fechados após a ingestão de um animal.
Bibliografia | QUINTINO, Fernando Rogado. A pintura e a escultura na Guiné Portuguesa. In: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Bissau, Vol19, n75, 1964, p. 279-288 | LINO, Silva. Serpentes do Ultramar Português. Ministério do Ultramar, Lisboa, 1955. V III. 547-554 | JONG, Joop T. V. M. de. O Irã, o fulano e a doença. In: Soranda – Revista de Estudos Guineenses, Bissau: INEP, n. 5, jan. 1988 | QUINTINO, Fernando Rogado. O totemismo na Guiné Portuguesa. In: Actas do Congresso Internacional de Etnografia. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar. Vol4, 1965, p.117-121 | |
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