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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Palácio Nacional de Sintra
N.º de Inventário:
PNS3647
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Pintura
Denominação:
Retrato de jovem nobre, cavaleiro da ordem de Calatrava.
Autor:
Juan Pantoja de la Cruz
Local de Execução:
Espanha (Valladolid ou Madrid)
Técnica:
Óleo sobre tela
Dimensões (cm):
altura: 191; largura: 113;
Descrição:
O jovem nobre aparece representado de corpo inteiro num interior indiferenciado, de pé, a três quartos e em tamanho próximo do natural. A mesa e o pavimento em tijoleira, em perspetiva, são as únicas referências a um espaço interior. / A figura do cavaleiro sobressai do fundo escuro, neutro, dirigindo o olhar para o espectador. Apresenta uma grande gola de franzidos ou canudos com elaborado rendilhado – as "lechuguillas" de Espanha – que toca as orelhas e isola a cabeça do resto do corpo e a mantém erguida. Dos punhos da armadura emergem franzidos a condizer com a gola. Enverga meia armadura equestre de parada, em aço, com rica decoração dourada. Sobre ela ostenta um colar de dupla corrente em ouro, com fita de seda vermelha entrelaçada, donde pende a insígnia da ordem militar de Calatrava. Este pendente oval, que apresenta no topo uma argola de suspensão, consta de uma moldura simples de ouro que enquadra a placa esmaltada de branco em cuja superfície está pintada, também em esmalte, uma cruz vermelha com as pontas terminando em flor-de-lis, símbolo distintivo da ordem de Calatrava . Trata-se de uma joia masculina de luxo, do tipo “hábito” ou “comenda”, que alude à condição nobre e elevada categoria do portador. / O jovem nobre é representado armado com a idade de 18 anos, dado fornecido pela inscrição do canto inferior esquerdo: “ÆTATIS SVÆ •18•”. Calça botas altas enceradas e veste meias brancas justas e calções golpeados de brocado dourado. Sobre a cota de malha, enverga meia armadura, ornamentada com bandas de motivos vegetais dourados. A armadura é composta por couraça com riste e escarcelas de lamelas, gorjal e braços inteiramente protegidos, com cotoveleiras adornadas com a cruz da ordem de Calatrava em dourado. A mão esquerda apoiada no punho da espada, descansando a direita sobre o elmo ou celada com penacho de plumas que se dispõe na mesa, vestida de veludo carmesim guarnecido a ouro e colocada num plano oblíquo para aumentar a sensação de profundidade. A espada e as esporas douradas são elementos chave que atestam o seu estado de cavaleiro calatravo já armado. A espada, de gala, é do tipo "rapière", com guarnição de laço, modelo em voga em Espanha a partir de meados do século XVI, ainda em uso no início do século XVII. O desenho do pomo e punho da adaga que se vislumbra por detrás da cintura faz conjunto com o da espada. / A figura do nobre cavaleiro, ligeiramente virada para a sua esquerda, está suavemente modelada graças ao foco de luz que recebe da esquerda da composição, criando interessantes efeitos de claro-escuro. Chamam particularmente a atenção as sombras desenhadas no pavimento pelas pernas do nobre cavaleiro, bem como as projetadas pela mesa sobre a perna direita e pelo elmo sobre as calças. A escuridão patente em determinadas áreas da pintura confere uma maior sensação de profundidade ao espaço e de volume à figura, enfatizando a luz que incide no rosto, gola, mãos, penacho e ornamentos dourados da armadura. / Acima da inscrição que indica a idade do efigiado aprecia-se o número “456”, pintado com traço irregular de cor amarelada, correspondente a um antigo número de inventário, do século XVII. No rebordo lateral direito da grade, na própria tela, oculto pela moldura, está pintado a preto o que parece ser o número “26”. / Em abril de 1885, a rainha D. Maria Pia de Sabóia compra esta pintura ao negociante de arte Jean Baptiste Lannoy, sediado em Paris. A obra é incorporada nas coleções reais como retrato de D. Sebastião, rei de Portugal, da escola flamenga do século XVI. As dúvidas sobre a autoria da tela e a identidade do jovem representado estiveram presentes nas análises de estudiosos e especialistas durante décadas, consequência do desconhecimento da sua origem e posterior circulação até à sua entrada no mercado de arte parisiense, na segunda metade do século XIX (Montesinos, 2017, p. 114-158). Em 2013 o retrato pertencente ao Palácio Nacional de Sintra (PNS) é vinculado ao retrato propriedade do Norton Simon Museum (NSM) de Pasadena (Califórnia), quer ao nível da autoria (Pantoja de la Cruz, obra assinada, c.1603), quer ao nível da proposta de identificação do personagem: Diego Gómez de Sandoval, secundogénito do duque de Lerma, valido de Felipe III de Espanha. As últimas investigações indicam que o retrato de Sintra seja uma réplica ou uma cópia de oficina – não assinada – do original "ad vivum" do museu norte-americano. Um destes dois é, provavelmente, o retrato referido no testamento («el que esta por acabar», 7 outubro 1608) e no inventário "post mortem" da casa e oficina do pintor («Mas un retrato entero del conde de Saldaña», 3 novembro 1608) (Kusche, 2007, pp. 488-497). Partindo destes dados e do ano de nascimento de Diego (1587) é legítimo considerar que o retrato sem assinatura seja o que aparece mencionado na documentação de 1608 e, consequentemente, a inscrição presente na tela (ÆTATIS SVÆ •18•) situaria a encomenda por volta de 1605. / A ligação do retrato do NSM com o do PNS é bem patente, tanto nas proporções e na fisionomia do retratado como no esquema de representação adotado, cortesão e principesco, repetindo de forma minuciosa a pose e todos os elementos da indumentária e da cenografia. É o historiador da arte Martín S. Soria, em 1954, quem apresenta uma fundamentada proposta de identificação, a pedido da firma Duveen Brothers. Em 1965, o colecionador americano Norton Simon adquire a esta firma a obra de Pantoja, cuja identidade atribuída é aceite como válida até hoje: Diego Gómez de Sandoval (1587-1632), comendador-mor da ordem de Calatrava (1599), gentil-homem da real câmara e conde de Saldaña pelo seu casamento com Luisa de Mendoza, em 1603, herdeira da Casa Ducal do Infantado e sucessora de uma ilustre e antiga linhagem castelhana com Grandeza de primeira criação. A genealogia deste “príncipe” da nobreza revela os seus laços familiares com a nobreza e realeza portuguesa e espanhola, bem como o percurso cortesão e militar dos Sandoval ao serviço de vários monarcas (Montesinos, 2017, p. 53-57). / Ambos seguem o protótipo fixado por Pantoja, por volta de 1590, nos retratos com armadura do príncipe Felipe (III) adolescente: corpo inteiro, a três quartos, de tamanho natural, mão esquerda apoiada no punho da espada, descansando a direita sobre o elmo, com meia armadura de parada e insígnia da ordem do Tosão de Ouro pendente de um colar de dupla corrente em ouro, com fita de seda vermelha entrelaçada. Esta fórmula remete para os últimos retratos armados de Felipe II com o tosão, continuadores de uma linguagem visual de afirmação pessoal e dinástica através da presença de certos atributos, cedo imitada pela elite aristocrática próxima dos Áustrias, a dinastia Habsburgo reinante na Monarquia Hispânica. No caso da pintura de Sintra, para além dos elementos que aludem à elevada categoria nobiliárquica e militar do retratado (meia armadura equestre de gala, de aço e ouro, com cotoveleiras adornadas com a cruz da ordem de Calatrava, em dourado; espada, adaga e esporas douradas; elmo com penacho de plumas disposto na mesa vestida de veludo de seda carmesim, guarnecido a ouro…), o que chama a atenção não é a fórmula “imagem-espelho”, prolongada por colaboradores de Pantoja como Bartolomé González ou Rodrigo de Villandrando, mas sim o colar que ostenta, cujo particular design, de onde pende a insígnia da ordem militar cristã a que pertence, apenas surge nos retratos com armadura do rei e do príncipe herdeiro; de figuras destacadas da família real, como o arquiduque Alberto de Áustria – príncipe soberano dos Países Baixos espanhóis (Flandres) – e de alguns cavaleiros das Grandes Casas nobres de Castela. São disso exemplo o retrato quinhentista de Rodrigo de Mendoza (coleção particular), conde de Saldaña, comendador dos bastimentos de León e treze na ordem de Santiago, sogro de Diego Gómez de Sandoval, e o retrato do duque de Lerma em exposição na sacristia da Colegiada de S. Pedro (Lerma, Burgos), fazendo gala da sua dignidade de comendador-mor de Castela na ordem de Santiago. Esta ostentação de joias-insígnia suspensas de tão exclusiva tipologia de colar (geralmente associada à ordem do Tosão de Ouro), evidencia a posição altamente privilegiada dos seus portadores. Será o colar que Diego exibe no seu retrato a «cadena» que a rainha Margarita lhe oferece como presente a 28 de maio de 1599? Uma evocação do retrato do anterior conde de Saldaña, seu sogro? Uma alusão específica à condição de gentil-homem da câmara de Felipe III (1603)? Ou ainda uma manifestação da sua proximidade e acesso ao rei? Uma joia masculina de luxo a ter também em consideração na análise de um dado inédito ignorado até hoje: a incorporação do retrato de Sintra numa coleção seiscentista de notáveis proporções com o nº 456. / Trata-se da coleção de pinturas do 1º marquês de Leganés, Diego Messía Felípez de Guzmán. O tamanho, a grafia, a cor e a posição destes números são similares. Localizam-se nos cantos inferiores, pintados na própria tela, amarelados. Os números patentes nos retratos do NSM (472) e do PNS (456) coincidem com os números referidos nos inventários de 1637 (750 obras), 1642 (1147 obras) e 1655 (1333 obras), sendo que a identidade mencionada nos três documentos difere da atual proposta de identificação. O inventário e avaliação post mortem de 1655, documento assinado pelo pintor Giovanni Andrea Podestà, diz o seguinte: «Don Velazquez de auila marques de loriana armado de medio cuerpo de mano de juan pantoja de la cruz [indicação de autoria, obra assinada] del nº quatroçientos y setenta y dos [472] la taso en ciente Reales ?100» e «Don Velazquez de auila conde de uceda y primer marques de loriana [identidade coincidente com a do retrato nº 472] del nº quatroçientos y cinquenta y seis [456] y la taso en treçientos y treinta Reales ?330» (López Navio, 1962, pp. 289-290; Pérez Preciado, 2010, p. 336-337, 347). / Juan Velázquez Dávila (1574-1604), 2º conde de Uceda (1587-1599) e 1º marquês de Loriana (1599-1604), é o primogénito de Diego Velázquez Dávila Messía de Ovando, 1º conde de Uceda, e de Leonor de Guzmán, tia do futuro conde-duque de Olivares. É, portanto, irmão mais velho do futuro marquês de Leganés e primo do futuro valido de Felipe IV de Espanha. Cavaleiro da ordem de Calatrava (1590), recebe a dignidade de comendador de Malagón e a licença para “vestir de colores” – necessária para poder usar joias e indumentária luxuosas – em 1593. Em 1599 é designado gentil-homem da câmara do rei e casa com María de Bazán, filha do marquês de Santa Cruz, almirante de Felipe II. Morre sem deixar descendência. Sobre estes e outros dados inéditos, convém considerar o seguinte: / A sua genealogia ascendente enquadra-se num patamar secundário da nobreza do século XVI. Por linha materna a sua linhagem destaca-se pelo vínculo com o 3º duque de Medina Sidonia, seu bisavô, e por ser neto do 1º conde de Olivares, detentor de importantes ofícios cortesãos e de várias dignidades na ordem de Calatrava. Por linha paterna é descendente de um ramo da família Dávila, herdeiro do senhorio de Loriana, mercê da união com a família Ovando. O pai de Juan Velázquez Dávila acede à nobreza titulada castelhana, à rede familiar dos Guzmán e a uma boa posição na Corte de Felipe II graças ao enlace com Leonor de Guzmán, em 1574, dama da rainha Ana de Áustria na Corte espanhola e dama da infanta Isabel Clara Eugenia na Corte flamenga. Mordomo de Ana de Áustria (1578), recebe o título de conde de Uceda em 1581. Porém, esta nova linhagem está longe de integrar o grupo das principais famílias cortesãs, o que não deixa de suscitar algumas dúvidas. Poderia Juan Velázquez Dávila ter sido retratado com um tipo de colar daquela importância? Tornando-o suporte privilegiado de um pendente que, em princípio, poderia aludir ao seu ingresso na ordem de Calatrava (c.16 anos) ou à concessão da comenda de Malagón (c.18 anos)? Uma comenda, de facto, pouco relevante e de parco rendimento (renda anual de 980 ducados); / A datação estimada para o retrato de Sintra (c.1592 / “ÆTATIS SVÆ •18•”) está em sintonia com a data a partir da qual Juan Velázquez Dávila, nascido em setembro de 1574, se poderia fazer retratar “de colores” (9 de fevereiro de 1593). Todavia, esta associação resulta incongruente com a datação estimada para o retrato do NSM (c.1590); / Chama a atenção a diferença aparentemente sem-sentido entre os valores de avaliação atribuídos a estes dois retratos (inventário de 1655). O retrato não assinado (Sintra) recebe o valor mais elevado, 330 reales face ao retrato assinado (100 reales) do NSM; / É muito provável que o marquês de Leganés tenha tido algum tipo de contacto com Diego Gómez de Sandoval, na Flandres e na Corte espanhola, em datas desconhecidas. Convém lembrar que é o conde-duque de Olivares quem expulsa da Corte de Madrid o filho do valido anterior, em 1621, e quem o aceita de volta cinco anos depois, restituindo-lhe a comenda-mor de Calatrava, com 10.000 ducados de renda anual, e o cargo de gentil-homem da câmara do rei (com intermediação do marquês de Leganés?). Refira-se que a coleção do marquês é constituída também através de compras nas vendas públicas de coleções de outros membros da nobreza espanhola, designadamente as realizadas em Madrid; / Os inventários conhecidos apresentam alguns erros ou descuidos na descrição das peças, perpetuados ao longo do tempo, incluindo alguns lapsos na identificação ou caracterização de personagens. Por exemplo, o retrato do pai dos marqueses de Leganés e de Loriana é mencionado no inventário de 1655 do seguinte modo: «El conde de uçeda don diego mesia de obando y marques de loriana del nº quatroçientos y quarenta y siete la taso en quatroçientos Reales». O primeiro conde de Uceda morre em 1587 e o marquesado é criado em 1599 a favor do seu primogénito. Estes equívocos, inclusive nos retratos familiares, eram comuns. / Estamos perante duas hipóteses de identidade plausíveis, com impacto nas datações atribuídas (1605-1608 [Diego Gómez de Sandoval] ou c.1592 [Juan Velázquez Dávila]). Contudo, desconhece-se a existência de retratos e de documentos que demonstrem a eventual relação de Juan Velázquez Dávila com Pantoja de la Cruz.
Incorporação:
Compra - Pintura adquirida a Lannoy, negociante de quadros, pela Rainha D. Maria Pia em abril de 1885 por 3500 francos = 632335 réis (“Retrato de D. Sebastião, Rei de Portugal”, Pourbus ou um dos seus colaboradores); Deu entrada no Palácio Real da Ajuda a 30 abril 1885; Transferência para o Real Palácio de Sintra, cerca de 1895 (1896?).
Origem / Historial:
Coleção de Diego Messía Felípez de Guzmán (†1655), 1º marquês de Leganés. Integração anterior a 1637; Coleção do marquesado de Leganés até à morte de Diego Messía Felípez de Guzmán y Dávila (†1711), 3º marquês de Leganés. Inventários de 1637, 1642 e 1655 (Palácio de S. Bernardo, Madrid); António Gaspar Osorio de Moscoso y Aragón (†1725), 8º conde de Altamira, herdeiro do marquesado de Leganés. Inventário de 1726 (S. Bernardo); Vendas dos bens da Casa de Altamira (entre 1821 e 1833); José de Madrazo ou Valentín de Carderera (?); Galeria de pinturas de José de Salamanca y Mayol, marquês de Salamanca; Venda no hôtel particulier do marquês de Salamanca, Paris, 6 junho 1867, lote 197 («Retrato de homem jovem», Pantoja de la Cruz, atrib.), adquirido por Étienne Le Roy; Galeria de retratos históricos de tamanho natural e corpo inteiro de J. Aragon; Leilão da coleção Aragon, Paris, Drouot, 30 março 1885, lote 13 («Retrato de D. Sebastião, Rei de Portugal», escola flamenga, séc. XVI), adquirido por Eugène Féral-Cussac; Jean Baptiste Lannoy vende à rainha D. Maria Pia, abril 1885 («Retrato de D. Sebastião, Rei de Portugal», escola flamenga); Palácio Real da Ajuda, Lisboa, desde 30 abril 1885; Palácio Real de Sintra, desde cerca de 1895.
 
     
     
   
     
     
     
 
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