Origem / Historial:
Trata-se de um retrato póstumo dos dois soberanos que o pintor ofereceu a D. Pedro Duque de Bragança por ocasião do seu trigésimo quarto aniversário durante o Cerco do Porto.
Contemporânea a esta pintura, é a miniatura muito semelhante, do mesmo artista, em exposição na vitrine da Sala das Açafatas (PNQ 229A), retratando a mesma rainha e também datada de 1824.
D. João VI- Terceiro filho de D. Maria I e de D. Pedro III, o Infante D. João nasceu em Lisboa a 13 de Maio de 1767. Em 1785 casa com a Princesa D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha mais velha do rei Carlos IV de Espanha, cinco anos após a chamada "Troca das princesas" em Vila Viçosa. Por morte do seu irmão D. José, Príncipe do Brasil, em 1788, torna-se o herdeiro directo do trono.
A partir de 1792 assume a regência do reino, devido à incapacidade da Rainha D. Maria I, sendo coroado rei no Rio de Janeiro em 1818, dois anos após a morte daquela soberana. Enquanto regente, D. João tem de enfrentar um dos períodos mais atribulados da história política portuguesa.
O avanço das tropas napoleónicas na Europa, que culmina em Portugal com as Invasões Francesas (1807-1811), obriga à transferência da Corte para o Brasil. Pressionado a regressar à metrópole, onde se desencadeara entretanto a Revolução Liberal de 1820, D. João VI jura a Constituição em 1821. No Brasil ficara o Infante D. Pedro, que em breve se tornaria líder do processo de independência e primeiro imperador do Brasil. Em Portugal, os opositores absolutistas têm na Rainha e no Infante D. Miguel os principais promotores da oposição ao governo constitucional, responsáveis por dois golpes de estado, a Vilafrancada (1823) e a Abrilada (1824); se o primeiro consegue neutralizar temporariamente o governo liberal, o segundo terá o seu desfecho com o exílio do Infante D. Miguel. Este permanecerá em Viena até 1828, sendo posteriormente com o seu irmão D. Pedro o protagonista principal da sangrenta guerra civil que oporá absolutistas e constitucionais até 1834.
D. João VI não assistirá no entanto ao desenrolar deste processo, morrendo em Lisboa a 10 de Março de 1826, logo após ter transferido a regência do Reino para a Infanta D. Isabel Maria. A polémica da sua sucessão inicia um novo capítulo da história do conturbado liberalismo português.
D. Carlota Joaquina (1775-1830), filha de Carlos IV de Espanha, nasceu em Aranjuez, em 1775, e faleceu em Queluz, em 1830. Casada aos 10 anos com o infante D. João, filho de D. Maria I, ascendeu a princesa herdeira após a morte do príncipe D. José, primogénito da rainha. Dotada de temperamento violento, voluntariosa, duma devoção fanática, a ausência de sólida educação familiar contribuiu para ela dar largas a um natural exuberante, tantas vezes em oposição com a compostura que convinha à sua posição, tendo estado quase sempre em conflito com o o marido, particularmente desde que este, por efeito da loucura da rainha, assumiu a regência (1792). Sem compreender o grande drama que então começava a representar-se para lá dos Pirinéus, sempre se mostrou intolerante com as novas ideias e reacionária à maneira espanhola. Implicada numa conjura para desapossar do governo o príncipe-regente, não quis este castigá-la, mas fixou-lhe residência em Queluz, vivendo os dois separados até à morte de D. João. Passando ao Rio de Janeiro por ocasião da 1.ª invasão francesa (1808), ali alimentou as esperanças de vir a reinar nas colónias espanholas, visto seu pai e seu irmão primogénito terem sido forçados por Napoleão a abdicar. Após um período de actividade febril da sua parte, em que se correspondeu com as autoridades das colónias espanholas na ambição de realizar os seus planos, nada daí resultou à medida dos seus desejos. Regressando a Lisboa em 1821, recusou-se teerminantemente a jurar a Constituição, e desde então votou-se a orientar a contra-revolução que teve o seu executor no infante D. Miguel. Tendo-lhe sido fixada residência na Quinta do Ramalhão, ali planeou a Vila-Francada, depois do que voltou à capital. Reincidente, preparou o golpe da Abrilada, mas, fracassado este, novamente lhe foi fixada residência, desta vez em Queluz, onde continuou a conspirar até à morte do rei (1826). Quando D. Miguel voltou a Portugal (1826), de novo a mãe lhe deu o seu apoio, contribuindo assim para o golpe de Estado que elevou o infante a rei, continuando depois a aconselhá-lo, sem chegar, porém, a viver o bastante para ver a derrota do filho e o seu exílio definitivo.