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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Palácio Nacional de Queluz
N.º de Inventário:
PNQ 260A
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Pintura
Denominação:
Retrato equestre de D. João, Príncipe Regente
Título:
O Príncipe Regente Passando Revista às Tropas na Azambuja
Autor:
Sequeira, Domingos António de (1768, Belém-1837, Roma)
Local de Execução:
Portugal.
Datação:
1803 d.C.
Matéria:
Óleo
Suporte:
Tela
Técnica:
Óleo sobre tela
Dimensões (cm):
altura: 107,3; largura: 78,2;
Descrição:
Retrato equestre de D. João, Príncipe Regente passando revista às tropas no Campo do Quadro, perto da Azambuja, nos finais de 1798, apesar do quadro se encontrar datado de 1803. Em primeiro plano, ao centro, observa-se D. João, de corpo inteiro, de perfil, montado sobre um cavalo branco, de lado para o observador, dirigindo o olhar para a frente, cabelos grisalhos e suiças. Apresenta chapéu preto debruado com barra dourada na superior, com pluma branca, farda militar de general, casaca vermelha bordada a dourado, com banda a tiracolo e condecorações ao peito, calças amarelas e botas pretas de cano alto com esporas. D. João tem o braço direito estendido para a frente, em direcção ao campo de batalha, segurando na mão um óculo dourado. A mão esquerda segura os estribos. O cavalo está aparelhado com sela verde sobre capa da mesma cor, decorada com motivos florais a fio dourado e debruados da mesma forma. Em segundo plano, no canto inferior direito, num plano mais recuado, surgem três oficiais a cavalo. Moldura dourada lisa.
Incorporação:
Transferência - Colecção da Casa Real. Transferido do Palácio Nacional da Ajuda por despacho ministerial. Nº de ordem 645/1941. Valor da avaliação à época: 7.000$00.
Origem / Historial:
Nº X''' 823 do Palácio Nacional da Ajuda. Este quadro faz parte das peças de Queluz que embarcaram para o Brasil com a família Real em Novembro de 1807 e esteve colocado no "Quarto da Princesa N. Sra (Princesa D: Carlota Joaquina). Fontes -ANTT CI/Quinta de Queluz, Cx. 2, Fev. 1809 - «Relação de tudo o que vai para o Thesouro das Necessidades em Fevereiro de 1809. O tema desta pintura são as manobras militares que tiveram lugar no Campo do Quadro, perto da Azambuja, nos finais de 1798, apesar do quadro se encontrar datado de 1803. Sabe-se que o Príncipe Regente assistiu com bastante agrado a muitas manobras em que tomaram parte um total de 6.700 soldados comandados pelo Tenente-General João de Ordaz e Queirós, ao que parece ele próprio retratado como a figura mais avançada do grupo de três oficiais a cavalo, à esquerda em segundo plano. Existem no Museu Nacional de Arte Antiga, treze estudos a carvão e giz preparatórios desta pintura: dois da cabeça do cavalo e um da parte superior do corpo de cavaleiro, com os números de inventário 1432, 1436 e 1295, respectivamente. Este quadro aparece pela primeira vez referenciado na «Relação de tudo o que vai para o Tesouro das Necessidades em Fevereiro de 1809...» (ANTT CI/Quinta de Queluz, Cx. 2, Fev. 1809), figurando no «Quarto da Princesa», e não havendo a certeza se daí chegou alguma vez a embarcar para o Brasil. Terceiro filho de D. Maria I e de D. Pedro III, o Infante D. João nasceu em Lisboa a 13 de Maio de 1767. Em 1785 casa com a Princesa D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha mais velha do rei Carlos IV de Espanha, cinco anos após a chamada "Troca das princesas" em Vila Viçosa. Por morte do seu irmão D. José, Príncipe do Brasil, em 1788, torna-se o herdeiro directo do trono. A partir de 1792 assume a regência do reino, devido à incapacidade da Rainha D. Maria I, sendo coroado rei no Rio de Janeiro em 1818, dois anos após a morte daquela soberana. Enquanto regente, D. João tem de enfrentar um dos períodos mais atribulados da história política portuguesa. O avanço das tropas napoleónicas na Europa, que culmina em Portugal com as Invasões Francesas (1807-1811), obriga à transferência da Corte para o Brasil. Pressionado a regressar à metrópole, onde se desencadeara entretanto a Revolução Liberal de 1820, D. João VI jura a Constituição em 1821. No Brasil ficara o Infante D. Pedro, que em breve se tornaria líder do processo de independência e primeiro imperador do Brasil. Em Portugal, os opositores absolutistas têm na Rainha e no Infante D. Miguel os principais promotores da oposição ao governo constitucional, responsáveis por dois golpes de estado, a Vilafrancada (1823) e a Abrilada (1824); se o primeiro consegue neutralizar temporariamente o governo liberal, o segundo terá o seu desfecho com o exílio do Infante D. Miguel. Este permanecerá em Viena até 1828, sendo posteriormente com o seu irmão D. Pedro o protagonista principal da sangrenta guerra civil que oporá absolutistas e constitucionais até 1834. D. João VI não assistirá no entanto ao desenrolar deste processo, morrendo em Lisboa a 10 de Março de 1826, logo após ter transferido a regência do Reino para a Infanta D. Isabel Maria. A polémica da sua sucessão inicia um novo capítulo da história do conturbado liberalismo português. Domingos António de Sequeira foi um grande pintor dos séculos XIX e XIX, de seu nome verdadeiro Domingos António do Espírito Santo, como consta do registo baptismal, havendo depois trocado o seu apelido pelo do padrinho e protector, um rico tendeiro de Belém, chamado Sequeira. Também nascido em Belém, então arrabal de Lisboa, foi discípulo de Joaquim Manuel da Rocha na Aula Régia de Desenho e Figura da Casa Pia de Lisboa, e, após a morte deste, ajudante de Francisco de Setúbal; finalmente em Roma para onde foi pensionado por D. Maria I, seguiu o mestrado de Della Picola em composição e de António Cavalucci em pintura. Influenciado primeiro beneficamente pelo Vieira Lusitano através de Joaquim Manuel da Rocha, deixou-se deslumbrar em Roma pela arte pomposa de Dominiquino e pelas harmonias musicais de Corrégio. Em Roma conheceu os seus primeiros êxitos, arrancando o segundo lugar, entre dezenas de poderosos rivais, em provas de aptidão para a Academia do Nu do Capitólio. Em 1793, por encomenda do Intendente Pina Manique, grande protector da artes, executou a vasta composição «Alegoria à fundação da Real Casa Pia de Lisboa» (Museu Nacional de Arte Antiga), em que surge o seu auto-retrato. Que foi considerado como fazendo parte dos frios moldes da escola davidiana, mas já plena de firmeza e rasgo, onde se adivinha o alvorecer dum grande artista. No ano seguinte, pintava para a Família Real «Aparição de Cristo a D. Afonso Henriques», tela que, exposta em Roma. Nos meios artísticos romanos, tão difíceis e exigentes, o seu triunfo tomava corpo e em breve era eleito por unanimidade académica de mérito e ofertava o seu quadro «Degolação de Baptista» à Academia de S. Lucas, em Roma. De regresso a Lisboa, pintou, em 1796, para o inglês Guilherme Beckford, a bela composição «Baco e Ariana» e, logo a seguir, esboçava os frescos sobre as batalhas da Restauração, que depois se haviam de executar com tanto brilho no palácio conventual de Mafra, como diz o seu biógrafo Xavier da Costa. Mas, embora pensionado pelo Príncipe-Regente, o futuro D. João VI, Sequeira sentia o vácuo à sua volta: hostilidade surda dos colegas despeitados, incompreensão de muitos, frieza de quase todos. Desiludido, desesperado, entrou como noviço para a Cartuxa de Laveiras, onde, entre 1798 e 1802, pintou belos quadros religiosos, de impressionante e dramático claro-escuro, em que se nota a influência de Dominiquino na composição e dos Venezianos no colorido: «A conversão de S. Bruno» (Museu Nacional Soares dos Reis), «São Bruno em oração» e «Comunhão de Santo Onofre» (ambos do Museu Nacional de Arte Antiga), e ainda «S. Paulo com Santo Antão no deserto». Mas trocou a paz do claustro pelas glórias do mundo logo que estas lhe sorriram: de facto, em 1802, era nomeado pelo Regente primeiro pintor de Câmara e Corte, de parceria com o seu ilustre rival Vieira Portuense, ambos encarregados de fazer pinturas decorativas para o Real Palácio da Ajuda. Em 1803, fez uma série notável de composições históricas: «Egas Moniz apresentando-se com a família ao Rei de Leão», «D. Afonso V armando cavaleiro seu filho D. João, em presença do cadáver do Marquês de Marialva, na Mesquita de Arzila» e «Os Almeidas derrotam o Cutiale em Panane», o último deles levado pelo Regente, em 1807, para o Brasil. Nestas obras, aflora a influência do seu insigne contemporâneo, o veneziano Domenico Pellegrini, que dele fez um saboroso e impressivo retrato, hoje no Museu das Janelas Verdes. Da mesma época são o excelente «Retrato equestre do Príncipe-Regente passando revista às tropas» (Palácio da Ajuda) e o admirável retrato colectivo colectivo «O 1º Visconde de Santarém com sua família» (Museu Nacional de Arte Antiga). Em 1807, Sequeira era nomeado director da aula de desenho da Academia de Comércio e Marinha do Porto. Com a primeira invasão francesa, Sequeira deixou-se fascinar pelo esplendor napoleónico e fez a composição «Junot protegendo Lisboa», esplêndida de colorido (Museu Nacional Soares dos Reis), que lhe valeu o forrete de traidor e alguns meses de cadeia, após a expulsão dos Franceses. Perdeu os seus lugares públicos. Mas não se deu por vencido. Continuou a trabalhar, sobretudo no Porto. Data de 1809 o seu belo guacho «Um desembarque de Afonso de Albuquerque na Índia» (primeiro Col. Barão de Forrester, hoje Col. Famíia Ferreirinha) e de 1812 o guacho a cores «Wellington coroado por Marte» (Museu Nac. de Arte Antiga), de jeito alegórico e de sentido épico, tardia reparação da sua deplorável homenagem a Junot. Pouco depois, foi encarregado de fazer os debuxos e de dirigir a execução da monumental baixela a ofertar ao grande cabo-de-guerra pelos governadores do reino, obra portentosa de que se exibiram alguns belos espécimes na Exposição de Ourivesaria Portuguesa e Francesa efectuada na Fundação Ricardo do Espírito Santos Silva em 1955. Nesta fase, toma vulto na pintura de Sequeira a influência de Goya, sobretudo em «O regresso do Príncipe-Regente através dos mares» (Col. Duque de Palmela), de 1810 ou 1811, obra de larga imaginação, que traduzia o anelo de todos os Portugueses do tempo, e no «Retrato do Conde de Farrobo», de 1813 (este no Museu Nacional de Arte Antiga), de brancos fulgurantes e de observação aguda, inexorável e veladamente satírica, como, aliás, sucede também com o soberbo esboceto de «Retrato de D. João VI» (Museu Nacional de Arte Antiga), em que, na rara opulência da púrpura e do oiro, esse soberano, tão sábio mas tão caluniado, nos surge enfatuado e ventrudo como um fantoche real (1825). Em 1820, Sequeira aderiu com entusiasmo ao liberalismo alvorecente, adesão selada com o seu notável «Esboceto alegórico à promulgação da Constituição de 1822», poderoso conjunto estuante de energia e cor. Planeou ainda uma vasta composição que fosse o retrato épico da Assembleia Constituinte e chegou a esboçar para o efeito os retratos de alguns deputados, hoje no Museu das Janelas Verdes, mas não conseguiu levar avante tão ambicioso projecto, além de que começou a ser abocanhado e vilipendiado pelos liberais, seus amigos da véspera. Em 1823, a Vilafrancada, golpe vibrado pelo infante D. Miguel contra o liberalismo, levou o artista a tomar prudantemente o caminho do exílio, na companhia de sua filha Maria Benedita, de quem fizera dois lindos e enternecidos retratos, um de 1813, quando ainda menina na companhia do irmão Domingos António, outro pouco anterior à expatriação, com ela ao piano, já mulherzinha (ambos no Museu das Janelas Verdes). Após curta passagem por Inglaterra, instalou-se em Paris, onde encontrou o melhor acolhimento da parte dum velho conhecido, o Conde de Forbin, antigo oficial de Junot, agora director-geral dos Museus, ao serviço dos Bourbons. Ali pintou os quadros famosos «Repouso da Sacra Família na fuga para o Egipto» e «A morte de Camões», depois desaparecidos, tão festejados no «Salon», no Louvre, em 1824, gabados por Gérard, Vernet e Ingres e premiados com a medalha de oiro, recebida das próprias mãos de Carlos X. Stendhal, com a sua autoridade de escritor e esteta, comparou a primeira destas obras a uma pintura do Corrégio, «tant les couleurs faisaient plaisir à l'oeil», e incluiu o nome de Sequeira no rol dos pintores célebres. Ali conheceu o artista a brilhante pintura inglesa dum Lawrence ou dum Constable, que bastante o havia de sugestionar. Ali fez excelentes retratos do infante D. Miguel, então a caminho de Viena, após o fracasso da Abrilada (dois carvões no Museu Nacional Soares dos Reis), e bem assim o notável «Retrato do Dr. Ribeiro Neves» (Col. Moore Turner, Londres) e outro retrato colectivo, «O Dr. Domingos Borges de Barros com a família». Em 1826, seguiu Sequeira para Roma, onde levou a cabo a pintura de obras magníficas. Entre esta data e 1832, dedicou-se à execução dum conjunto admirável de obras sacras: «Descimento da Cruz» em 1827, «Adoração dos Magos» em 1828, «Ascenção do Senhor» e «Juízo Final» em 1832 (todos na Col. Duque de Palmela). São composições poderosas na larguesa da concepção, na sábia ordenação das figuras incontáveis, no cromatismo opulento, nos efeitos surpreendentes de claridade e sombra, em que se vislumbra a lição de Rembrandt. Em todas elas perpassa uma emoção nobre e contida, um suave lirismo de raiz bem portuguesa. Xavier da Costa proclama que «contam entre as produções mais elevadas da arte universal». São, no entanto, ultrupassadas pelos respectivos cartões preparatórios (Museu Nacional de Arte Antiga), superiores em vibração dramática, em espontaniedade e brilho às telas definitivas que deles haviam de florescer. Em 1833, uma série de ataques apopléticos veio cortar-lhe a carreira e marcar o ocaso da sua vinda tão fecunda. Ainda sobreviveria a si mesmo durante quatro anos este grande pintor que tantas e tão variadas influências sofreu, desde as dos Venezianos e dos Ingleses até às de Goya e de Rembrandt, e que, todavia, tão profundamente original se mostrou sempre, porque soube assimilar essas influências, amalgamá-las e fundi-las no seio sua forte personalidade. Ele marca a transição do classicismo para o romantismo e, talvez por isso, Aarão de Lacerda lhe chamou «o nosso primeiro romântico». Sequeira distinguiu-se também como gravador e foi até quem executou as primeiras litografias em Portugal: pobres de técnica as de 1822, feitas em Lisboa com uma prensa e pedras litográficas enviadas de Paris, atingiram alta qualidade as da fase parisiense, pouco posteriores em data, mas já admiráveis de factura.
 
     
     
   
     
     
     
 
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