Origin / History:
* Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006, 18/07/2006*
Segundo documento encontrado por Vergílio Correia nos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, este painel fazia parte de um políptico para a capela-mor da Sé de Lamego, encomendado pelo Bispo de Lamego, D. João de Madureira (1503-1511) ao pintor viseense Vasco Fernandes.
O primeiro contrato foi firmado em Lamego a 4 de maio de 1506, ficando o retábulo concluído em 1511. Apesar de restarem apenas cinco painéis de um conjunto inicial de vinte, o segundo contrato (o primeiro mencionava um número menor de painéis), lavrado a 4 de setembro de 1506, estipulava que Vasco Fernandes devia executar um retábulo constituído por um conjunto de vinte painéis pintados, que seria composto por esta ordem: dois painéis maiores ao centro, figurando o de cima Deus Pai com o globo na mão e rodeado de anjos, e o de baixo, a Virgem, sentada, com o Menino ao colo; em três fieiras com três quadros de cada lado, cenas da criação do mundo, da criação de Adão, infância de Jesus, desde a Anunciação ate à Apresentação no Templo. Também da sua reponsabilidade seriam a estrutura arquitetónica em talha bem como os diversos pormenores de acabamento. Forma, dimensões, programa iconográfico, marcenaria, materiais e preço e condições de pagamento foram rigorosamente indicados pelo exigente bispo.
O retábulo manteve-se no local para que foi destinado até que obras realizadas no séc. XVIII o fizeram apear e desmembrar. Diz Vergílio Correia que "durante dois séculos o políptico permaneceu armado na capela maior da Sé, até que as obras realizadas no segundo quartel do século XVIII atiraram a maior parte das tábuas desligadas para destinos incertos. Algumas seriam oferecidas a igrejas pobres, outras queimadas por imorais. O século de setecentos não compreendia já as ingenuidades dos primitivos, e a série da Criação de Adão, vista de perto com os seus nus flagrantes deveria indignar ou estoirar de riso o cabido em claustro pleno" (Correia, 1942). "Na verdade, já em 1639 as Constituições Sinodais do Bispado de Lamego, na esteira de toda a legislação congénere posterior ao Concílio de Trento, haviam exigido a "decência" das obras de arte do interior dos templos, ordenando aos visitadores que mandassem destruir ou reformar os espécimes em que tal se não verificasse" (Gonçalves, 1990)
Em 1910, encontravam-se os painéis na Sala do Capítulo, mas dos vinte painéis iniciais, apenas cinco viriam a salvar-se. Em 1912, passam para o edificio do antigo Paço Episcopal, sendo incorporados na colecção do Museu de Arte e Arqueologia criado em 1917, atual Museu de Lamego.
Segue-se a cronologia apresentada no relatório de tratamento efectuado nos cinco painéis pela empresa Arterestauro, em 2002:
"1511- Fica terminado o retábulo";
1615 - data a que foi sujeito a uma intervenção "que por antigo necessita de reparo";
1656 - foi pintada a Capela-Mor;
Séc. XVIII - o interior da Sé foi reformado;
1881 - quatro dos cinco painéis encontram-se expostos na sala do Capítulo da mesma Sé;
1919 a 1923 - Luciano Freire tratou os cinco painéis (...)"
2002 - A empresa "Arterestauro" procede ao tratamento do conjunto dos painéis, a propósito da exposição em Salamanca: "Grão Vasco. Pintura Portuguesa del Renacimiento".