Origem / Historial:
As violas e suas variantes
Durante o último quartel do século XVIII, princípio do século XIX, um interesse efémero pela Antiguidade fez criar na aristocracia e burguesia o gosto por instrumentos híbridos. A lira-viola é um desses casos, conseguindo uma associação entre a forma da viola e a da lira antiga, com colunas laterais projectando-se do tampo harmónico. Este instrumento, com seis ou sete cordas simples, anuncia a viola romântica do século XIX.
Reproduções pictóricas indicam a existência deste instrumento desde o séc.IX. Uma lira-guitarra de seis cordas foi muito utilizada como instrumento de acompanhamento, em Paris e em Londres, c.1780-1817
Os exemplares em questão datam da primeira metade do século XIX e são de factura refinada, como se pode ver, com rosáceas entalhadas e colunas laterais douradas, braço e cravelhal terminando em cabeça feminina raiada. O corpo é decorado em estilo Império.
A lira-viola, instrumento híbrido, lira com cravelhal, braço, cordas e cavalete semelhantes aos da viola, parece ter aparecido em França cerca de 1780, acompanhada do folheto de N. Maréchal, de Paris Plagiat dénoncé aux musiciens et aux amateurs des lyres nouvelles. Aos instrumentos construidos em Paris por este último, mais Michelot, Lacomte, Pleyel e Pons juntaram-se os de Cäen, Mirecourt e Marselha, bem como de Nápoles na Itália e de Berlim na Alemanha. Afinadas como a viola de seis cordas, as peças que sobreviveram datam de entre 1785 e 1817. A sua forma pouco funcional foi a causa de ter sido substituida, como instrumento para acompanhamento vocal, pela viola ou pelo piano. No entanto, parece ter agradado a Vogl, o amigo de Schubert e ao tenor francês Fabry-Garat.
A lira é um instrumento de cordas conhecido pela sua vasta utilização durante a antiguidade. As récitas poéticas dos antigos gregos eram acompanhados pelo seu som, ainda que o instrumento não tivesse origem helénica. O género de instrumento a que pertence a lira terá tido o seu alvorecer na Ásia, inferindo-se que terá entrado na Grécia através da Trácia ou da Lídia. Enquanto que os primeiros intérpretes, heróicos, e aqueles a quem se reconhecem melhoramentos no instrumento eram das colónias da Iónia, da Eólia ou da costa adjacente ao império Lídio, os mestres propostos pela mitologia grega eram Trácios: Orfeu, Museu e Tamíris.
A estrutura de uma lira consiste num corpo oco - caixa de ressonância - do qual partem, verticalmente, dois braços (montantes), que, por vezes, também são ocos. Junto ao topo, os braços ficam ligados a uma barra - o jugo - que liga as cordas até outra saliência de madeira transversal - o cavalete - disposta junto à caixa de ressonância e que lhe transmite as vibrações das cordas. As cordas são percutidas com a ajuda de um plectro. O número de cordas variava, geralmente entre seis e oito.
As cordas eram feitas de tripa ou de tendões de boi ou carneiro. Há quem afirme que os braços primitivos deste instrumento eram feitos com chifres de cabra.