Origem / Historial:
MNM 55
Sanfona
Datado de finais do século XIX, o exemplar de corpo piriforme, construído em França no século XIX, é da autoria do luthier e escultor de formação Jean-Baptiste Cailhe (1835-1919), podendo ler-se no estojo a marca de fogo “CAILHE-DECANTE/A CHARROUX/ALLIER”.
O instrumento musical possui uma decoração rica, sendo o cravelhal rematado com cabeça feminina e a caixa pintada com motivos geométricos a preto e vermelho.
A sanfona é um cordofone com cavalete e braço friccionado por roda, com teclado, descendente do antigo organistrum ou symphonia, designação que em França dá origem à palavra chifonie. A sanfona medieval era composta por uma caixa de ressonância rectangular com cordas dispostas sobre o tampo e postas em vibração através de uma roda accionada por manivela colocada numa das extremidades. Em Portugal, durante a Idade Média, na corte de D. Pedro I, ainda se admitiam tocadores de sanfona enquanto em França, Alemanha e Itália era já um instrumento despromovido socialmente, tendo passado, tal como o nome lyra mendicorum indica, para os mendigos e cegos. Na corte francesa a sanfona só voltará a atingir o apogeu em meados do século XVIII, sendo tocada pelas damas da mais alta nobreza nas árias pastorais e nas danças como sarabandas, minuetes e outras. Em finais de setecentos o uso do instrumento musical regressou ao povo, estando actualmente em desuso.
Conta-nos Alfredo Keil que, segundo uma crónica francesa, quando em 1367 o rei de França mandou o seu embaixador a Portugal, o rei D. Fernando I, para se mostrar agradável ao enviado francês, chamou à sua presença os melhores menestréis que tinha na corte, os quais tocaram sanfonina e a quem o rei teceu os maiores elogios. No entanto, o embaixador “em lugar de se maravilhar com a audição musical disse francamente que no seu paiz esse instrumento só poderia causar o pasmo de algum burguez boçal, mas nunca fôra exhibido n’uma côrte!... Calcula-se o desaire na côrte de D. Fernando I, que logo expulsou dos paços reaes os tocadores de sanfonina.”