Origem / Historial:
O violoncelo de etiqueta John Hare pertenceu à colecção de el-Rei D. Luis e veio a fazer parte do Museu Instrumental do Conservatório Nacional, por despacho ministerial. O interesse deste violoncelo reside nas costas invulgarmente trabalhadas. De verniz claro no centro, desde a cunha até a baixo intercalam-se gravadas, embutidas e buriladas figuras humanas, animais, motivos florais, etc.. A figura central tem aos pés uma lira e logo abaixo o nome Norman. Duplos filetes rodeiam as costas e terminam em laço. Estes filetes e todos os outros elementos decorativos, laços, flor de lis, monograma central BN, são típicos e inconfundíveis do construtor inglês Barak Norman. Poder-se-á tratar de um instrumento iniciado por Norman, atendendo à data e, após a sua morte, terminado por Hare.
D. Luís, rei de Portugal (1838-1889), filho de D. Fernando, da Saxónia-Coburgo-Gota, e da rainha D. Maria II, subiu ao trono após a morte de seu irmão, D. Pedro V. Casou-se com a princesa Maria Pia de Sabóia. Dotado de sensibilidade artística, pintava, tocava piano e violoncelo, e compunha. Iniciou os seus estudos musicais com o Mestre Capela - Manuel Inocêncio Liberato dos Santos - incumbido do ensino da música aos infantes. Com o seu preceptor, o violoncelista visconde da Carreira, aprendeu violoncelo.
Nos serões musicais familiares, tão ao gosto do século XIX, tocava piano ou violoncelo, enquanto seu pai, D. Fernando, cantava. Deslocava-se muitas vezes ao teatro São Carlos para assistir a espectáculos de ópera e organizava com regularidade concertos no palácio da Ajuda, em que também se assumia como executante.
Como compositor, D. Luís deixou-nos algumas obras musicais: uma Avé Maria, uma Barcarola, uma Missa (a parte de violoncelo) e cinco valsas.
Parte do seu acervo instrumental encontra-se, hoje, no Museu da Música. São de realçar o violoncelo Stradivari, um harmónio e o piano de Liszt (vendido a D. Maria II e por ela doado a Manuel Inocêncio dos Santos).