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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu: Museu Nacional Soares dos Reis N.º de Inventário: 128 Pin MNSR Denominação: Rapariga romana Dimensões (cm): altura: 40,3; largura: 32; Descrição: Figura de rapariga representada a três quartos e virada três quartos à direita.
Está encostada a uma parede e tem a mão direita na cintura e a esquerda junto ao corpo a segurar uma pandeireta.
A figura está vestida com um traje típico dos arredores de Roma, caracterizado por toucado formado com lenço branco dobrado no cimo da cabeça, lenço estampado sobre os ombros e cruzado no peito, blusa branca com as mangas cingidas no antebraço e avental negro com faixas coloridas bordadas.
O cabelo negro pende cobrindo totalmente os olhos e a testa, deixando visível apenas a zona inferior do rosto. A tinta empastada num brinco e no colar de coral produz pontos de inesperados de densidade e volumetria numa composição onde quase tudo parece apostado na diluição desses efeitos. A figura “cola-se” no fundo inundado de luz intensa, projectando uma única sombra correspondente à zona da cabeça e uma espécie de aura rosada em torno da mão que segura a pandeireta vermelha.
O rosto e a sua envolvente (pescoço, colar, brinco e lenço) são aliás as únicas zonas de tratamento pictórico mais cuidado e minucioso, em contraste com o de tudo o resto onde a pincelada não se perde em detalhes nem contornos, e tudo define em manchas e cor, evidenciando o desinteresse do artista pelo pitoresco do motivo em si e a clara aposta no exercício de cor e de luz.
Com alguma unanimidade, os vários autores que se têm debruçado sobre esta obra (v. bibliografia) frisam o seu carácter experimental e a aproximação empírica ás experiências de Manet em torno da bidimensionalidade da pintura.
Incorporação: Outro - Fundo Antigo do Museu proveniente da Escola de Belas Artes do Porto (antiga Academia Portuense de Belas Artes).
Origem / Historial: Pertence ao Fundo Antigo do Museu: o antigo Museu Portuense, criado em 1833, passa a ser tutelado por uma Comissão de professores da Academia de Belas Artes do Porto, a partir de 1839, e as duas instituições passaram a partilhar o mesmo espaço e tutela. Em 1932 é feita a partilha do acervo existente pelas duas instituições, o Museu Soares dos Reis (antigo Museu Portuense) e Escola de Belas Artes (antiga Academia): dessa divisão foi registada uma “Relação dos objectos existentes no Museu Soares dos Reis pertencentes ao Estado”, datada de 1 de Novembro de 1932 e firmada por João Marques da Silva e por Vasco Valente, respectivamente, director da Escola de Belas Artes e do Museu Soares dos Reis.
Após a morte de Henrique Pousão, em 25 Março de 1884, o seu pai, o juiz Francisco Augusto Nunes Pousão, a exercer funções em Odemira, reuniu toda a obra do artista que se encontrava dispersa entre familiares e amigos, mandou emoldurar todos os quadros que pode reunir, mais tarde foi transferido para Faro e levou consigo toda a obra que reunira. F. Fernandes Lopes escreve a esse propósito que Nunes Pousão “tinha tudo no seu escritório, cujas paredes estavam assim forradas com quadros do filho. Encontrava-se ali tudo o que fora a sua produção artística em Pintura, excepto naturalmente o que anteriormente enviara para a Academia do Porto ou teria sido vendido a raros particulares, que lhe haveriam feito encomendas, ou ainda de amigos ou pessoas de família a quem fizera ofertas…” V. em Bib. LOPES, Francisco Fernandes [1959], p. 98, 99.
Após a morte do Juiz Nunes Pousão, em 2 de Agosto de 1888, em cumprimento da sua vontade, as obras foram entregues, pela viúva, à Academia Portuense de Belas Artes em cujo arquivo se guarda a relação sucinta de obras e objectos então entregues “Relação dos quadros, desenhos e mais objectos que faziam parte do espólio de Henrique Pousão.” AFBAUP. Uma lista mais detalhada seria posteriormente redigida na própria Academia AFBAUP Documento avulso, sem cota, e Correspondência para o Governo, 1837-1911 [130, 21 Set. 1889, fla. 50 v].
Bibliografia | ALMEIDA, Bernardo Pinto de - Henrique Pousão. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, pág. 70, 72, 73 il. | Exposição de Pintores Alentejanos. Vila Viçosa: Fundação da Casa de Bragança, 1946, pág. nº 24 | Exposição temporária da obra de Henrique Pousão (1859-1884). Lisboa: MNAC, 1946, pág. 8, nº 15 | LOPES, Francisco Fernandes - Cartas de Henrique Pousão e excertos de outras cartas e escritos que se lhe referem. Lisboa: Portugália, [1959] ?, pág. 66 | MACEDO, Diogo de - No Centenário de Pousão. Ocidente . Lisboa. LVI, (Jan.-Jun. 1959), p. 3-13, pág. 3-13 | Museu Nacional de Soares dos Reis. Pintura Portuguesa 1850 - 1950 [Catálogo da exposição]. [Lisboa]: MC/IPM/MNSR, 1996, pág. 158, 159, cat. nº 158 | Os Naturalistas Portugueses [Cat. Exp.]. Macau: 1986, pág. nº 29 | RODRIGUES, António - Henrique Pousão. Lisboa: Inapa, 1998, pág. 31, 32, 48, 49 il. | SALAZAR, Abel - Henrique Pousão. Porto: Livraria Tavares Martins, 1947, pág. [7] il. | TEIXEIRA, José Monterroso - Henrique Pousão no Primeiro Centenário da sua Morte (1884-1984) (Cat. exp.). Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1984, pág. 22-23, 102 il., 111, nº 203 | VALENTE, Maria Adelaide - Cânticos da Insubmissa Luz. Braga: Edições APPACDM Distrital de Braga, 1995, pág. 70 | MATIAS, Maria Margarida L. G. Marques - O naturalismo na pintura. Historia da Arte em Portugal. Do romantismo ao fim do século. Lisboa: Publicações Alfa. Vol. 11 [1986], p. 29-133., pág. 84 | SILVEIRA, Carlos , SILVA, Raquel Henriques da (coord.) - Henrique Pousão. Pintores Portugueses. Matosinhos: QuidNovi, 2010., pág. 51, 52 | GARRADAS, Cláudia - A Colecção de Arte da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Génese de uma Colecção Universitária. Porto: Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, 2008. Tese de Mestrado (exemplar policopiado), pág. 48, 49 | |
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