Origem / Historial:
A partir de 1952, Jorge Vieira executa um conjunto de esculturas que desenvolvem uma verticalidade reconfiguradora do espaço vazio, muito vagamente exploradas pela sua obra até então. Se uma pequena escultura de 1948 (n.º cat. 4), através dos seus espaços vazios sobrepostos, abria caminho para esta problemática, foi sobretudo com a maquete para o Monumento ao Prisioneiro Poliítico Desconhecido (n..º cat. 45) que esta nova poética revelou. Uma síntese linear possibilitada pelo bronze, material até à data pouco trabalhado pelo artista, solicita uma participação dos espaços vazios sobrepostos e depois encadeados. É desde os pés cravados no chão, definindo também eles um espaço vazio emergente, que se projecta uma continuidade espacial ascendente travada pelo encadeamento que os filamentos de bronze impõem com tensionalidadde. O político é assim implicado nas relações formais de teor abstracto. Se a abstracção é dominante em muitas destas esculturas, elas não se assumem rigorosamente enquanto tal já que, frequentes vezes, elementos iconográficos figurativos e simbólicos de natureza residual são integrados nas composições. Outro aspecto, significativo do acréscimo de preocupações relativas à valorização da ordem dos significantes, é a de uma diluição da memória totémica que estas esculturas comportam. A articulação orgânica que solicita espacialidades vazias e sobrepostas é então o motivo desencadeador de uma vertente abstracta mais pronunciada (n.º cat. 45, 46, 51, 52), enquanto nas formas compactas e alongadas com estrangulamentos (n.º cat. 48, 49, 50, 53) a presença de parcialidades femininas, por vezes mínimas, é influente. Quando os estrangulamentos são mais pronunciados (n.º cat. 50) ou ritmados (n.º cat. 53) é a fronteira entre o espaço ocupado pela escultura e o vazio circundante que dá lugar a uma configuração participativa do espaço vazio adstrito ao volume escultórico.
De entre o conjunto de obras não localizadas ou destruídas, que pela sua qualidade aqui se faz registo, importa destacar a escultura (n.º cat. 51) realizada para o Pavilhão Português da Feira Internacional de Bruxelas, em 1958, de que restam apenas os desenhos preparatórios (n.º cat. 106, 107, 108).