Origem / Historial:
Esta obra recebeu a medalha de ouro na 36ª Exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa, no ano de 1939. É a peça mais icónica, de toda a produção de Almeida e Silva.
Podendo ser considerada como “pintura de género”, já que nos remete para a representação de uma actividade, esta obra é também um extraordinário “retrato” físico e psicológico, e ainda uma excelente figuração de “natureza morta”, pela qualidade do tratamento dado aos elementos vegetais.
A composição, que poderia ser partida em dois retratos aparentemente distintos, revelam o instante em que duas vendedeiras, mulheres robustas, vestidas de forma simples, já de meia-idade, se preparam para dispor as hortaliças numa bancada de venda.
A mulher mais velha, no lado esquerdo da composição, acomoda um quinhão de couves com as suas mãos rudes e fortes. A sua expressão é compenetrada e pensativa. O seu trajo popular, saia rodada, ampla camisa escura e avental, é próprio de um dia comum de trabalho, só pontuado, com alguma alegria, pelo lenço de cor garrida e com as argolas de ouro.
A mulher mais nova segura, com os seus braços fortes, uma cesta repleta de nabos, apoiando-a na bancada. A sua expressão facial é bruta e tensa, talvez antevendo um pálido sorriso ou apenas a manifestação de cansaço.
Em ambas as personagens, que são de gerações diferentes, parece trespassar um sentimento de resignação. Na primeira talvez seja um gesto maquinal, de toda uma vida, que mesmo à boca da velhice ainda é necessário que se continue, para bem de um magro sustento; a outra decalca essa vivência, com aceitação, como que uma inevitabilidade.
No fundo escuro da composição podemos ver uma série de outros elementos, (eventualmente dispensáveis) que ajudam a caracterizar o espaço. São bem notórias as réstias de generosas cebolas e outros atavios, como uma grande talha de azeitonas, alguma louça rústica e um vaso com flores.
No contexto das obras de Almeida e Silva, esta expressa bem as suas qualidades técnicas, plásticas, amplos recursos e a predilecção por uma estética naturalista, que não deixa de ser temperada com um sentimentalismo romântico e um apreço particular pelos temas do mundo rural e da identidade beirã.
(Sérgio Gorjão, 2011)