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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
V 0007
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Coche
Título:
Coche da Coroa, Embaixada de D. João V a Luís XIV- Embaixador D. Luís da Câmara Conde da Ribeira Grande
Autor:
Desconhecido
Local de Execução:
Paris, França.
Datação:
1715 d.C.
Matéria:
Madeiras; couro; bronze; cobre; ferro; vidro; tartaruga; sedas; veludo de seda
Suporte:
Madeira de carvalho e/ou azinho (rodados e estrutura); faia inglesa (fundo da caixa)
Técnica:
Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; bronze fundido em molde bivalve, soldado e dourado; cobre laminado e vazado; ferro pudelado e dourado; seda espolinada...
Dimensões (cm):
altura: 373; largura: 217; espessura: 6,5 (rodas dianteiras e traseiras); diâmetro: 88 / 178 (rodas dianteiras e traseiras); comprimento: 713;
Descrição:
Coche de caixa fechada, montada sobre quatro rodas, com molas de suspensão em ferro dourado e cremalheira moderadora de velocidade. A caixa, mais estreita na parte inferior, é fechada por meio de portinholas e de oito vidraças de diferentes tamanhos, seis nos alçados laterais, uma no alçado dianteiro e outra na traseira, pelo que toma o nome de "estufa". Assenta sobre um varal longitudinal de secção rectangular, mais largo nas extremidades, onde é reforçado por três aros metálicos dourados. Na parte anterior do carro, o varal prolonga-se por dois arcos metálicos ditos em "pescoço de cisne", que estabelecem a ligação com a chamada "quinta roda". Estes são canelados, tendo ao centro um nó circular decorado com florões excisos, para o qual confluem dois meios-balaústres circundados por folhas de acanto. A "quinta roda" é formada por duas peças circulares sobrepostas, a primeira com delicados motivos vegetalistas a ouro sobre fundo vermelho e a segunda em meia-cana, entalhada com folhas de água e acantos. É atravessada transversalmente pelo eixo do rodado, este rematado por volutas e mascarões e decorado com reticulado de ângulos internos boleados. O sistema de suspensão é constituído por fortes correões de couro dispostos obliquamente e por quatro molas de suspensão em ferro pudelado e dourado, localizadas nos ângulos inferiores da caixa. Estas são formadas por dois grupos de vinte e uma lâminas sobrepostas e de tamanhos decrescentes, o primeiro arqueado na direcção da caixa e decorado com flores-de-lis e o segundo voltado no sentido oposto. Os correões externos são duplos, revestidos a veludo de seda verde e agaloados a ouro. Os respectivos fivelões, sub-rectangulares, são marcados por seis medalhões circulares, os dos vértices contendo uma flor e os centrais uma cabeça de leão: as molduras são preenchidas por reticulado losangular, cada losango contendo um pequeno quadrifólio. Os fivelões maiores prolongam-se ainda inferiormente num triângulo polilobado, dentro do qual se inscreve um girassol; em todos eles os fusilhões são rematados por um dragão alado, símbolo da Casa de Bragança. O reverso é o negativo do anverso. O coche possui ainda dois pares de tesouras de segurança - um à frente e outro atrás -, igualmente forradas a veludo verde e debruadas a galão de ouro, cujas fivelas de bronze, semelhantes às anteriormente descritas, são decoradas com palmetas, girassóis e mascarões. Nas portinholas, foram pintadas as armas reais portuguesas sobre cartela, sustida pela "Justiça" (espada e balança) e pela "Fortaleza" (coluna), à direita, e pela "Prudência" e a "Temperança" ou "Perseverança", esta última sentada, recebendo de um querubim uma pátera com água. No apainelado posterior esquerdo, a "Honra", representada por um homem de aspecto venerando, coroado de louros, tendo na mão direita uma lança e na esquerda um escudo oval contendo a legenda transcrita (alusão aos templos de Marcelo), encimando dois templos clássicos: o da Honra e o da Virtude. Traja manto verde sobre túnica vermelha e ostenta colar e bracelete de ouro com pedrarias. Do mesmo lado mas à frente, encontra-se uma figura masculina não identificada, com lira, vestida de verde e castanho e que assenta o pé direito sobre um delfim que jorra pedras da boca. No painel anterior direito, um ancião barbado e vestido de burel, pousa o dedo indicador sobre os lábios, em sinal de "Silêncio". Do mesmo lado mas na parte posterior da viatura, o "Mérito" ou a "Providência"; trata-se de uma figura vestida "à guerreira", com manto vermelho e elmo, tendo na mão direita o ceptro real e na esquerda um escudo onde se inscreve um golfinho. As armas reais portuguesas repetem-se nos apainelados dianteiro e traseiro, no primeiro flanqueadas pela "Paz Recompensada" e pela "Castidade", respectivamente à esquerda e à direita. Aquela é representada por uma figura alada, vestida "à guerreira", com cornucópia e palma, recebendo de um querubim um cesto repleto de jóias: a "Castidade" assume a forma de uma figura feminina vestida de verde, a qual se prepara para flagelar com o seu chicote um Cupido agrilhoado. No alçado traseiro, as figuras da "Caridade" (amamentando duas crianças), à esquerda, e da "Esperança" vestida da verde e vermelho, com uma âncora, enquanto o querubim a seu lado se faz acompanhar de uma pomba branca, alusiva à paz. Nos vértices inferiores da caixa encontram-se três elmos entalhados, todos diferentes entre si, e um turbante (este no remate posterior esquerdo da caixa), simbolizando as quatro partes do mundo. Cada um destes atributos corresponde ao continente representado nos cantos superiores da caixa sob a forma de uma cariátide ou torso feminino desnudo, assente sobre voluta proeminente e festão entalhado. O cabeçal traseiro, de vermelho e ouro, tem perfil trapezoidal e é decorado com motivos em estilo Luís XIV, entre os quais se contam volutas, grinaldas,cabeças de leões encimadas por palmetas, acantos e palmas. A decoração, bastante contida e organizada segundo a mais rigorosa simetria axial, tem por função evidenciar a estrutura, com a qual se harmoniza. A moldura superior é interrompida, ao centro, por medalhão circular moldurado e inscrito em cartela, o qual contém o monograma do embaixador extraordinário de D. João V, desenhado em maiúsculas decorativas. O medalhão é sobrepujado por coroa condal, sustida por dois querubins de vulto perfeito, e dele pende a grã-cruz da Ordem de Cristo, definida por duplo quadrifólio. Da parte inferior do cabeçal flui uma cabeça de guerreiro enquadrada por panóplias militares, também em vulto redondo. Tanto este último elemento como o referido medalhão marcam, juntamente com uma palmeta invertida a uma grinalda - estas localizadas sobre o eixo das rodas -, o eixo vertical do carro. Os fivelões das correias de suspensão, rectangulares, são ornamentados com seis medalhões circulares, os dois centrais contendo uma cabeça de leão e os restantes uma flor de tipo "hibiscus", nos vértices. O fundo é reticulado e cada uma das quadrículas encerra um pequeno quadrifólio. Superior e inferiormente, os fivelões são prolongados por um elemento de perfil triangular, este em forma de roseta e aquele, no seguimento do fusilhão, representando o dragão bragantino. Nos resguardos das molas em bronze dourado, representa-se um "putto" sobre bombarda encimada por ramo de oliveira, o qual com uma tocha acesa queima troféus militares, numa alusão directa à Paz de Utreque. Esta representação simbólica assenta sobre uma moldura inferior alongada a todo o comprimento das molas e cuja decoração é composta por folhagem diversa e um mascarão relevado. O reverso dos resguardos é côncavo e liso. O banco do cocheiro possui almofada rectangular em couro castanho, assente sobre uma rede do mesmo material. A saia de veludo que cobre a almofada em veludo verde (moderno) com bordados de aplicação a ouro, foi recentemente restaurada. Os bordados fitomórficos de três alturas, formam uma larga cercadura que preenche quase por completo as abas e invade o tampo superior. O tejadilho, em forma de pavilhão, é revestido a seda polícroma recamada a ouro e sobrepujado por coroa real fechada em bronze dourado, atravessada por quatro palmas e parras. Os terminais, igualmente em bronze dourado, são compostos por um dragão alado e coroado, sendo a coroa condal cruzada por palmas e sustentada por dois querubins de vulto perfeito. Em número de oito, estes dispõem-se no eixo das ilhargas e dos pés-direitos das portinholas, fixando-se à estrutura por meio de parafuso. No interior da caixa, o tecto é integralmente revestido a brocado de seda recamado de ouro, em tons de branco, amarelo, verde e azul, com delicados motivos florais e serpentiformes em estilo Luís XV. Ao centro, um florão ovalado em talha dourada inscreve-se num medalhão definido por cercadura de folhagem, cujo campo é igualmente forrado a seda polícroma. Do mesmo material são forrados os bancos, os apoios para os pés (circulares e giratórios) e a face interna das portinholas. As cortinas, em tafetá duplo de seda verde, são franjadas e recobertas a bordado de ouro formando delicados motivos vegetalistas idênticos em ambas as faces. O parsevão é marchetado a tartaruga e cobre laminado, dourado e vazado, formando delicadas composições fitomórficas e zoomórficas, bem como figuras alusivas às Ciências: Astronomia, Geografia e Geometria. No próprio parsevão rasga-se o estribo de acesso, de perfil semicircular e também ele marchetado desenhando, em baixo, duas pombas entre cercadura vegetalista; na face interna distingue-se uma representação de Cupido e "grotescos" e, de ambos os lados, uma aljava cruzada por arcos e flechas. No exterior lança (lança 16) acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe perpendiculares) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura).
Incorporação:
Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * A bibliografia mais antiga refere este coche como sendo uma das quarenta e nove viaturas de gala que acompanharam D. João V à fronteira do Caia, tendo então servido para transportar o monarca português, que se deslocou a Espanha a fim de negociar o casamento dos seus dois filhos. Outros autores contemporâneos defendiam, pelo contrário, que este carro havia sido construído para as cerimónias de casamento do "Magnânimo" com a Arquiduquesa D. Maria Ana de Áustria, em 1708. Modernos trabalhos de investigação conduziram à revisão das teses iniciais, pelo que é hoje possível afirmar que o coche vulgarmente designado por "Coche da Coroa" integrou a Embaixada do Conde de Ribeira Grande, D. Luís Manuel da Câmara, enviado especial de D. João V à corte de Luís XIV de França. Com esta manifestação pública realizada em 18 de Agosto de 1715, o soberano português cimentava as relações diplomáticas com as restantes cortes europeias, celebrando em uníssono o fim da Guerra da Sucessão de Espanha e a recém-proclamada Paz de Utreque. Nesta Embaixada, que integrava também o coche nº invº 15, dito do Infante D. Francisco (hipótese avançada por PEREIRA, 1987 e recentemente confirmada), a viatura em apreço ocupava o primeiro lugar no desfile e era alusiva à Paz. O 3º Conde de Ribeira Grande (1685-1723), capitão-general da ilha de S. Miguel e alcaide-mor do castelo de S. Brás, foi um dos nobres portugueses directamente empenhado na Guerra da Sucessão de Espanha. Pela coragem demonstrada em diversas empresas militares, particularmente na defesa de Campo Maior contra as forças militares espanholas, foi agraciado por D. João V, que o escolheu para liderar uma importante missão diplomática a desenvolver junto da corte francesa. Esta Embaixada ficaria para sempre famosa pela sumptuosidade e magnificência de que se revestiu, sendo difícil discernir onde acabava a ostentação joanina e começava a daquela casa nobre. Regressado ao Reino, D. Luís da Câmara fixou-se na ilha açoriana, de onde era natural, incentivando a recém-criada indústria de lanifícios através da contratação de inúmeros operários franceses especializados. Na década de 1830, o coche encontrava-se depositado nas Reais Cocheiras do Calvário, em Lisboa, de onde transitou em 1873 para as Reais Cocheiras da Calçada da Ajuda. Por último, em 1904, foi transferido para o Depósito I da Repartição das Reais Cavalariças (antigo Picadeiro Real de Belém), futuras instalações do Museu dos Coches Reais. Ao longo do século XIX, esta carro serviu em diversas cerimónias da corte, razão pela qual possuía um segundo parsevão amovível, revestido a veludo carmesim e que consta do Inventário Geral do Museu. - Baptizado da Infanta D. Antónia, 8 de Abril de 1845 - Casamento da rainha D. Maria II com D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha, 9 de Abril de 1836 (transportou a rainha até à igreja) - Funeral da rainha D. Maria II, 17 de Novembro de 1853 - Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 de Maio de 1858 (transportou os nubentes da Igreja de S. Domingos para o Palácio das Necessidades) - Funeral da rainha D. Estefânia, 18 (?) de Julho de 1859 - Funeral de D. Pedro V, 12 de Novembro de 1861 - Casamento de D. Luís I, 6 de Outubro de 1862 (transportou D. Maria Pia à Igreja) - Funeral da Infanta D. Isabel Maria, 23 de Abril de 1876 - Funeral de D. Fernando II, 16 de Dezembro de 1885 - Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886 - Funeral do Infante D. Augusto, Outubro de 1889 - Funeral de D. Luís I, 20 de Outubro de 1889 - Aclamação de D. Carlos I, 28 de Dezembro de 1889 - Funeral da Imperatriz do Brasil, D. Maria Cristina, Janeiro de 1890 - Funeral de D. Pedro II, Imperador do Brasil, 13 de Dezembro de 1891 COMENTÁRIO: Comparando o coche em apreço com as descrições dele feitas por fontes coevas ressaltam, antes de mais, as profundas discrepâncias a nível da decoração externa da caixa, por um lado, e da concepção formal dos rodados, por outro. Os rodados actuais são posteriores à construção do carro, apresentando-se descentrados em relação aos eixos. As primitivas rodas, douradas, impunham-se pela sua originalidade e perfeição, sendo formadas por apenas seis raios em vez dos doze tradicionais, sendo que os restantes haviam sido substituídos por "SS" que fechavam nos próprios raios, com o eixo marcado por um florão que ocupava metade do espaço deixado vazio. Quanto ao painel dianteiro, sabemos que originalmente representava a Paz na forma de uma figura feminina sob arco triunfal, assente sobre troféus militares quebrados. Na traseira do veículo, uma palmeira e diversos meninos que com as suas folhas teciam coroas da vitória tendo, de um lado, Mercúrio sobre uma águia, com os atributos das Artes liberais numa das patas e, de outro, Amalteia sobre uma pantera, com os frutos da abundância. Os painéis das portinholas serviam de suporte às armas do Embaixador de D. João V e em cada um dos quatro apainelados laterais representava-se uma figura alegórica que, juntamente com um menino, sustentava uma cifra. De acordo com as fontes citadas, este coche era "(...) por fora, de veludo verde escuro, completamente bordado a ouro, com figuras em relevo (...). Nos cantos de todos os frizos tinhão hum castello de ouro em campo vermelho, & todas estas representações se vião relevadas em bordado sobre o veludo com perfeyção mayor do que a pintura (...)" (Cf. "Notícia...", pp. 5-6). O revestimento têxtil das caixas das viaturas de gala, apanágio da indústria romana do início de Setecentos, começava a ser substituído em França pelos painéis pintados com cenas figurativas e alegóricas como, aliás, denota a decoração do segundo carro da embaixada. Todavia, não será de estranhar que o monarca português tenha encomendado para o representar um carro à "maneira romana", similar aos que se construíam em Roma para a entrada pública do Marquês de Fontes na corte de Clemente XI, e equiparado ao daquele diplomata tanto na cor, como na profusão de fio de ouro. Recorde-se, a propósito, que as verbas dispendidas em fio de ouro eram muitas vezes superiores ao valor real do trabalho escultórico da caixa e rodados, servindo mesmo de parâmetro na avaliação final da obra. De resto, o impacte causado por este carro foi tal, que esteve exposto em casa do Embaixador português, para que todos os pudessem admirar. Quanto à decoração pictórica que presentemente reveste a caixa, e excluindo todas as alterações resultantes dos restauros do século passado, parece não restarem dúvidas que terá sido executada posteriormente (quiçá sob D. José I, como anunciava Luciano Freire em 1923), num contexto certamente distinto e que justificasse a inclusão de figuras alegóricas como o "Silêncio", que dificilmente poderiam ser entendidas à luz da celebração da Paz europeia. Elsa Garrett Pinho

Tipo

Descrição

Imagem

Heráldica/Insígnia

Armas reais portuguesas (portinholas e apainelados traseiro e dianteiro) / Monograma do Embaixador Extraordinário de D. João V (alçado traseiro).

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