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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
V 0002
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Coche
Título:
Coche de D. Maria Francisca de Sabóia
Autor:
Desconhecido
Local de Execução:
França
Datação:
1660 d.C. - 1666 d.C.
Matéria:
Madeira; ferro; bronze; couro; veludo de seda; tafetá de seda.
Suporte:
Madeira de carvalho e/ou azinho (estrutura)
Técnica:
Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; bronze fundido em molde; ferro forjado e soldado; couro pespontado.
Dimensões (cm):
altura: 250; largura: 197; espessura: 5,5 / 5,3 (rodas dianteiras e traseiras); diâmetro: 85 / 174 (rodado dianteiro e traseiro); comprimento: 588;
Descrição:
Coche de caixa fechada, de perfil trapezoidal, montada sobre quatro rodas e suspensa de fortes correias de couro dispostas obliquamente a partir dos ângulos inferiores da caixa. Os eixos dos rodados estão unidos por um varal longitudinal reforçado nas extremidades por aros de ferro e prolongado na parte anterior por dois arcos também em ferro forjado, ditos em "pescoço de cisne", que permitem manobrar mais facilmente a viatura. O sistema de suspensão, bastante incipiente, resume-se a oito pares de correias de couro castanho avermelhado - quatro à frente e quatro atrás -, que ligam a parte inferior da caixa aos montantes. Estas são pespontadas a branco, com lisonjas e elipses em alternância. As correias externas fluem directamente dos enrolamentos metálicos localizados nos ângulos inferiores, e em tudo idênticos aos que arrancam das portinholas. Entre as correias de suspensão existem ainda tesouras de segurança, igualmente de couro pespontado, cruzadas a meia altura dos alçados posterior e dianteiro. Os fivelões de bronze são planos e recortados, tendo os lados menores em forma de crescente lunar com decoração incisa; os respectivos fusilhões são revirados e estriados na ponta. A caixa é fechada por oito vidraças, seis das quais nos alçados laterais, que lhe conferem a designação de "estufa". Todas elas possuem caixilhos de madeira revestidos de veludo vermelho-ocre. As duas vidraças das portinholas são quadrangulares, apresentando-se desniveladas em relação às dos painéis das ilhargas, que se inscrevem numa moldura moderna de madeira. As molduras externas fazem parte integrante da estrutura e têm entalhados delicados motivos fitomórficos formando festões. Os apainelados inferiores, ornamentados com grinaldas e querubins esvoaçantes pintados sobre fundo de ouro, são divididos longitudinalmente por fina cornija (rectilínea nas portinholas e contracurvada de ambos os lados), entalhada com folhagem diversa. Nos painéis dianteiros, um dos querubins transporta um escudo oval de ouro com três flores-de-lis do mesmo, símbolo da Casa Real de França; nos painéis traseiros mantém-se o escudo, agora contendo a cruz de Sabóia. A mesma decoração pictórica de cariz vegetalista repete-se nos painéis das ilhargas. Nos ângulos externos da caixa, a esculturação vegetalista adquire maior volume, acentuando o seu perfil ondulado. As portinholas, articuladas à caixa por meio de duas charneiras simples, douradas e decoradas com cercadura fitomórfica incisa, descem abaixo do nível do parsevão, dissimulando os estribos que fazem parte integrante da estrutura. Os respectivos puxadores, em bronze fundido, são formados por duas placas recortadas - uma cravada à portinhola e outra ao pé-direito -, por uma pequena haste cilíndrica prolongada por palheta de encaixe e por placa de secção plano-convexa, em forma de balaústre; esta última é ornamentada com incisões simétricas que desenham um losango central, dentro do qual se inscreve uma semiesfera. Da base das portinholas fluem dois ornatos em ferro dourado - um de cada lado -, constituído por haste contracurvada à qual se soldam três espirais, duas simétricas e idênticas e a terceira menor e descentrada. Estes elementos decorativos estabelecem ligação entre as portinholas e os vértices inferiores da caixa e, apesar da sua aparente fragilidade, desempenham uma função estabilizadora. A portinhola esquerda é decorada com um escudo francês em cartela sobrepujada por coroa real fechada, contendo as armas de Portugal e da Casa de Sabóia. Tem por tenentes duas figuras alegóricas, a da direita com elmo emplumado e escudo oval assente no solo e a da esquerda vestida de verde e vermelho, com um dos seios desnudado. Na portinhola do lado direito, distingue-se uma coroa de louros fechada, sustida por duas figuras femininas contrapostas e sem atributos específicos, dentro da qual se inscreve o monograma de Mademoiselle d'Aumale em maiúsculas decorativas. Em ambos os painéis os tenentes sustentam uma fina coroa de louros que encima o escudo e o monograma, repectivamente. Nos pequenos painéis inferiores foi pintada uma águia sobre pedestal, tendo no bico um ramo de oliveira (símbolo da Paz), flanqueada por duas grinaldas. No painel posterior repete-se o escudo duplo da cartela, encimado por coroa real fechada e sustido pelas figuras alegóricas da Vitória (alada com trombeta e pé direito assente sobre uma figura masculina prostada) e da Constância (?) com coroa de louros e lança, tendo a seus pés um escudo com a cabeça de Medusa e panóplias militares. Ambas as figuras apontam para o escudo real, atingindo a quase total altura do suporte. O duplo escudo sobre cartela domina também a decoração do apainelado dianteiro, agora ladeado pelas figuras alegóricas da Justiça (à esquerda) e da Religião (trajando de verde, com cruz de Tau em torno da qual se enrola uma serpente). Contrariamente ao que sucede no painel oposto, estas figuras foram concebidas num módulo proporcional ao painel, não excedendo em altura a cercadura fitomórfica de remate. As rodas traseiras são constituídas por seis pinas unidas entre si por "gatos" de ferro e cingidas no extradorso por aro metálico com cavilhas de grandes dimensões. Os doze raios convergentes e oblíquos são lisos, com excepção da extremidade superior, junto às pinas, onde se distinguem pequenas incisões mais ou menos profundas. A massa é decorada com caneluras levemente oblíquas, contendo cada uma delas um pequeno gomo. O cuvo (ou cubo) circular, é cingido por uma peça tubular em bronze, rematada no topo por florão, a qual se fixa à estrutura de madeira por meio de uma cavilha de ferro que a atravessa verticalmente, tendo a extremidade superior martelada e revirada. O eixo do rodado traseiro, de secção rectangular, é ornamentado com delicada decoração vegetalista em baixo-relevo que sobe pelos montantes laterais, destacando-se ao centro da face posterior, pelas dimensões e volumetria, um mascarão enquadrado por motivo concheado. Os montantes dividem-se em três registos sobrepostos: o primeiro em forma de pedestal de secção quadrangular, alargando progressivamente para a extremidade superior, o intermédio limitado por duas volutas e o último assente sobre base gomada, moldurado e de perfil contracurvado. Na moldura superior do cabeçal distingue-se uma cabeça antropomórfica inscrita em concheado e flanqueada por dois pares de aletas orientadas em sentidos opostos, as superiores definidas por um friso de óvulos e as inferiores por cercadura gomada. Em tudo idênticas às posteriores mas de menor diâmetro e apenas constituídas por oito pinas são as rodas dianteiras do carro, cujo eixo é interrompido pela "quinta roda", de secção plano-convexa, formada por dois registo sobrepostos e articulados. O círculo inferior é decorado com friso de óvulos e o superior com frontões contendo medalhões ovais moldurados e faixados. No eixo desta peça e assente sobre dois montantes iguais aos do cabeçal traseiro encontra-se o banco do cocheiro, com almofada de couro sustida por grelha metálica e coberta por saia de veludo vermelho, franjada e agaloada a ouro. A saia é feita a partir de dois panos, sendo as abas definidas por fino galão; nas abas laterais foi ainda aplicado um galão mais largo que descreve um rectângulo central. O escabelo, obíquo e alongado, é esteriormente ornamentado com friso de pequenos ramos de louro; a fim de aumentar a segurança do cocheiro, a meio da face interna existe uma peça de madeira arqueada, cravada à tábua. Por último, esta fixa-se à estrutura por meio de quatro parafusos e das respectivas porcas "de orelhas". A douradura dos jogos e dos rodados adquiriu uma tonalidade esverdeada. As duas metades do timão, de secção circular, estão unidas a meio por ferragem lanceolada, cravada à madeira e ornamentada com pequenas incisões oblíquas. Nas extremidades possuem ainda um aro laminado com prolongamento em forma de lança. Sobre estas repousa o balancim de suporte, constituído por um prisma central e por duas hastes laterais, em forma de balaústre, rematadas por volutas; suspensos de anel de couro castanho-avermelhado, cujo pesponto descreve elipses e lisonjas, encontram-se dois balancins mais pequenos, também elas em forma de balaústre alongado. Uma peça cilíndrica que servia à segunda parelha atrelada, decorada com cinco anéis lisos, encontra-se actualmente colocada junto ao banco do cocheiro, embora não faça parte integrante da viatura. O tejadilho, levemente convexo, foi montado a partir de duas asnas-mestras, levemente arqueadas e cruzadas obliquamente, sobre as quais se estende o couro negro do exterior; em todo o seu perímetro, é ornamentado com pregaria ovalada, com incisões raiadas. Assenta sobre cornija saliente, entalhada com folhas de acanto Luís XIV dispostas em friso e, no canto anterior esquerdo, apresenta um remendo traiangular, aposto ao couro negro da base. Possui quatro maçanetas ou terminais em bronze maciço (nos quais subsiste parte da douradura original), axialmente dispostos em relação aos ângulos da caixa; estes têm a forma de urna de base circular, corpo gomado contornado por quatro grinaldas e remate periforme lavrado. O rebordo do tejadilho é polilobado e contornado por moldura metálica dourada, apresentando ainda uma segunda fiada de pregaria miúda. O interior da caixa é integralmente revestido de veludo cortado de diferentes épocas, sendo o tecto guarnecido de galão, franja e pregaria dourada. Galão idêntico contorna as almofadas e os espaldares dos bancos, bem como o intradorso das molduras das janelas. Possui quatro cortinas de tafetá de seda vermelha franjadas a ouro, fixas aos ângulos internos da caixa. O parsevão é revestido de couro negro. Os elementos mecânicos e as rodas datam do sé. XVIII. No exterior, lança, acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe perpendiculares) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura).
Incorporação:
Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * Segundo a tradição, este veículo pertenceu a D. Maria Francisca Isabel Luísa de Sabóia-Nemours, Mademoiselle d'Aumale, casada com os reis D. Afonso VI e D. Pedro II em 1666 e 1668, respectivamente. Procede do Depósito II da Repartição das Reais Cavalariças. Trata-se de um veículo bastante moderno para a época, que corporiza as inovações preconizadas pelo francês Le Pautre na década de 60 do século XVII, o qual concebia novas formas e decorações para as viaturas de aparato, que passariam a ser fechadas com vidros. Como notou Monsenhor Pereira Bôto (1909), não terá sido neste coche nem mesmo no nº invº 3 - cuja propriedade é igualmente atribuída à princesa francesa -, que D. Maria Francisca Sabóia terá dado entrada em Lisboa no ano de 1666 pois, contrariamente à descrição feita por fontes coevas, ambos têm tejadilho fixo. Segundo o mesmo autor, é provável que tenha sido este o carro utilizado no prestito do Imperador D. Pedro IV, procedente de Queluz para o Panteão da Casa de Bragança, instaldo no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Outrora identificado pela letra "B" e datado de 1666-1683, segundo verbete manuscrito existente no Arquivo do Museu, este coche encontrava-se em depósito porque "incapaz", integrando a colecção permanente do M.N.C. apenas na década de 1940, depois de ser submetido a restauro.
 
     
     
   
     
     
     
 
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