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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
V 0012
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Meios de transporte
Denominação:
Coche
Título:
Coche de D. João V
Autores:
Almeida, José de
Quillard, Pierre-Antoine (Paris, - 1733)
Local de Execução:
Portugal (?)
Datação:
1723 d.C. - 1729 d.C.
Matéria:
Madeira (carvalho e/ou azinho); bronze; vidro; seda; tafetá; veludo; estopa
Técnica:
Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; bronze fundido a cera perdida, soldado, recortado e dourado; seda lavrada; veludo cortado; bordado directo
Dimensões (cm):
altura: 342; largura: 215; espessura: 7,5 / 7,7 (rodas dianteiras e traseiras); diâmetro: 83 / 113 (rodas dianteiras e traseiras); comprimento: 641;
Descrição:
Coche de caixa "bombée" (perfil contracurvado), montada sobre quatro rodas, assente sobre um varal longitudinal e suspensa de fortes correias de couro dispostas obliquamente entre os ângulos inferiores e os montantes. A caixa é fechada por duas portinholas articuladas (a da direita com uma fenda profunda) e por oito vidraças, as duas maiores nos alçados principais. O sistema de suspensão é constituído por quatro molas laminadas, localizadas junto aos ângulos inferiores da caixa, e por fortes correões de couro - quatro mais largos e quatro mais estreitos -, revestidos a veludo de seda carmesim agaloado a ouro. As molas são formadas por dois grupos de oito lâminas sobrepostas, de tamanhos decrescentes, o superior arqueado na direcção da caixa e o inferior no sentido oposto. Os respectivos resguardos, em bronze dourado, são formados por uma placa ondeada e moldurada por volutas e aletas, onde pontua uma quimera. Os correões possuem fivelões de bronze dourado, recortados e ornamentados com motivos concheados, mascarões, volutas e, nos vértices, quimeras contrapostas em relação aos eixos; os respectivos fusilhões, de secção circular, são rematados por chapa recortada e relevada, onde se inscreve uma vieira. Os correões maiores unem as "mãos" das molas aos montantes, enquanto os restantes melhoram a estabilidade da viatura, estabelecendo ligação com o fundo da caixa. O coche possui ainda dois pares de tesouras de segurança, cruzadas à frente e atrás, também elas com fivelões de bronze. Os jogos e os rodados são pintados de vermelho e ouro, assim como os restantes elementos estruturais. As seis pinas das rodas traseiras são recortadas no intradorso e cingidas no extradorso por aro de ferro munido de minúsculas cavilhas semiesféricas; são decoradas com os doze signos do Zodíaco, simbolizando a rotação circular do Universo, movimento caro ao Barroco porque, sendo dinâmico, natural e perfeito, é também o garante da inalterabilidade das coisas e da manutenção da ordem hierárquica. A face interna das pinas apresenta um friso decorativo pontuado por palmetas. Os raios, em número de doze, convergentes e oblíquos, são contracurvados e assemelham-se a ceptros reais. De notar que na face externa de uma das pinas que compõem a roda posterior esquerda, existem dois remendos metálicos cravados à madeira, sobre os quais foram pintados os motivos decorativos acima descritos. Numa das vigas perpendiculares ao eixo do rodado traseiro, foi inciso a goiva o número "8" referente, certamente, a um antigo inventário. As rodas dianteiras, de menor diâmetro e com apenas quatro pinas, possuem oito raios abalaustrados e são ornamentadas com motivos geométricos que se desenvolvem no anverso e no reverso. À semelhança das posteriores, a massa é trabalhada em escócia e pontuada por quadrifólios nos interstícios dos raios. O cubo, circular, é cingido por uma cinta tubular em bronze dourado, rematado por amplo florão, fixando-se à estrutura por meio de uma cavilha floreada que a atravessa verticalmente. Os montantes do cabeçal traseiro descrevem, juntamente com o eixo das rodas, um pentágono de lados contracurvados, rematados no vértice superior por mascarão ladeado por dois génios coroados de folhas de carvalho, símbolo da estabilidade dos Impérios; no central, falta um dedo da mão esquerda e em baixo, avançado ao próprio eixo, um terceiro génio sorridente olha na direcção dos demais. A meia altura dos montantes distinguem-se duas "espagnolettes" (figuras femininas sorridentes, de longos cabelos e diadema) e mascarões. Na decoração predominam, para além das referidas figuras de vulto, folhas de carvalho e landes, símbolo da prosperidade do reino; estas parecem irromper do interior dos montantes, deixando marcado um sulco em meia-cana. No alçado dianteiro destaca-se a tábua do cocheiro, disposta obliquamente em relação aos montantes, que é rematada por mascarão central e duas "espagnolettes" contrapostas e assentes sobre volutas. O banco do cocheiro possui almofada de couro castanho sobre rede do mesmo material, coberta por saia de veludo carmesim bordada e franjada a ouro. Originalmente constituída por cinco panos distintos, as abas foram mais tarde unidas entre si com pontos grosseiros; apenas na aba direita subsiste o canutilho de ouro aplicado junto à franja, o qual descreve uma pequena sanefa. A saia é integralmente forrada a estopa de juta. Os apainelados laterais da caixa são divididos longitudinalemnte por modinatura lavrada e contracurvada. Os painéis superiores das ilhargas, de dimensões diminutas, têm pintado um querubim entre folhagem e sobre fundo de ouro; nos inferiores, duas figuras femininas com trombetas (Fama e Glória), assentes em mísulas, sustêm um medalhão oval dentro do qual se inscreve a figura de um deus clássico: Mercúrio, Marte, Júpiter e Juno. Na portinhola direita, o painel principal represente Vénus recebendo oferendas de Amores e sereias. O conjunto figurativo confina-se a um semicírculo imaginário, sendo contornado por cercadura ornamental. Um medalhão ovalado marca o centro do painel inferior correspondente ao estribo, enquadrando uma cena figurativa monocromática; este é flanqueado por duas figuras femininas reclinadas e por dois sátiros, sobrepujado por albarrada e assente sobre fundo reticulado. Na portinhola esquerda, Neptuno com nimbo de corais faz-se acompanhar de um querubim domando um delfim, e de uma criatura feminina representando o império marítimo, tendo à cabeça um edifício e que oferece ao deus dos mares frutos vários. O painel inferior é em tudo idêntico ao acima descrito, com excepção da composição monocroma. Nos pés-direitos das portinholas, entalhados por entre os inúmeros motivos "rocaille", encontram-se dois torsos masculinos e outros tantos mascarões zoomórficos coroados de flores. A pintura do painel traseiro representa a "Virtude Heróica" sob a forma de Hércules adormecido no trono e com a pele do leão de Nemeia, sendo coroado pela "Glória" e pelo "Valor" (guerreiro com lança e elmo emplumado). Ladeiam-no duas quimeras e dois grifos, estes simetricamente dispostos de ambos os lados do plinto e ocupando o primeiro plano. O grupo é encimado por baldaquino sustido por dois querubins e assenta sobre panóplias militares. À esquerda, sobre mísula, a "Justiça" acompanhada de um querubim com estandarte azul carregado de três flores-de-lis de ouro alinhadas, e à direita, a "Prudência" com espelho; o querubim a seu lado empunha um estandarte listado de branco e laranja. No apainelado dianteiro, a "Generosidade Régia" (?) é também coroada pela "Glória" e pelo "Valor", de quem recebe jóias; a seus pés, os símbolos das Artes, das Letras e das Ciências. A composição segue de perto o esquema do painel traseiro, com baldaquino, quimeras e grifos. À esquerda, a "Punição" (com freio) acompanhada de querubim com estandarte branco carregado de três flores-de-lis de ouro alinhadas, e à direita a "Constância" secundada por um outro querubim parcialmente velado pelo estandarte bicromático de laranja e azul. O tejadilho, em forma de calote esférica, foi montado a aprtir de uma armação de asnas cruzadas e convergentes que sustenta o revestimento de veludo de seda cortado, vermelho e carmesim. É decorado com chaparia de bronze dourado e cinzelado e contornado por quatro fiadas de pregaria campaniforme, as duas internas afastadas entre si e de maiores dimensões. É rematado por oito terminais de bronze maciço, dispostos nos eixos das ilhargas e dos pés-direitos das portinholas. Cada um dos terminais tem a forma de uma pirâmide triangular invertida, profusamente ornamentada com motivos fitomórficos e figuras aladas, estas colocadas nos vértices, sobre base circular alteada e gomada. No interior, a caixa é revestida de veludo vermelho cortado, agaloado e bordado no tecto, onde forma medalhão central e guarnições de canto. Possui sanefa bordada a ouro, com franja e borlas douradas e quatro cortinas de seda vermelha lavrada a fio metálico laminado e forradas de tafetá de seda da mesma cor com decoração floral. Os aventais dos assentos são em veludo cortado com ornamentação idêntica à do tecto. O parsevão é revestido de veludo vermelho cortado, com galão dourado e pregaria. A saia da da almofada do cocheiro é igualmente de veludo vermelho, bordada, agaloada e franjada; os motivos ornamentais diferem dos do revestimento interior da caixa. As pinturas dos painéis da caixa são atribuídas a José da Costa Negreiros ou ao pintor françês Pierre Antoine Quillard. A talha é atribuída ao escultor José de Almeida em colaboração com seu irmão Félix Vicente de Almeida. No exterior as lanças (lança nº2), acessório da viatura, varal de madeira que faz a ligação/ encaixe (neste caso paralelos) entre a estrutura do veículo e atrelagem dos animais.
Incorporação:
Afectação Permanente - Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
Origem / Historial:
* Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * Segundo a tradição, este coche de gala, habitualmente atrelado a quatro parelhas, terá sido encomendado por D. João V e provavelmente construído na mesma oficina que, anos mais tarde, executaria o coche dito de D. José I (nº invº 22) e a caixa da berlinda de D. Maria I (nº invº 39). Para além dos nomes supracitados, a autoria deste coche foi também atribuída ao italiano Filipe Juvara (cf. TERRIER, 1975). No século XIX, serviu nas seguintes cerimónias da corte: - Baptizado da Infanta D. Antónia, 8 de Abril de 1845 - Funeral do Infante D. Leopoldo, 8 de Maio de 1849 - Funeral da Infanta D. Maria, 4 de Fevereiro de 1851 - Funeral de S. A. Imperial, D. Maria Amélia, Abril de 1853 - Funeral da Rainha D. Maria II, 17 de Novembro de 1853 - Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 de Maio de 1858 - Funeral da Rainha D. Estefânia, 18 (?) de Julho de 1859 - Funeral de D. Pedro V, 12 de Novembro de 1861 - Casamento de D. Luís I, 6 de Outubro de 1862 - Funeral da Infanta D. Isabel Maria, 23 de Abril de 1876 - Funeral de D. Fernando II, 16 de Dezembro de 1885 - Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886 - Funeral de D. Luís I, 20 de Outubro de 1889 - Aclamação de D. Carlos I, 28 de Dezembro de 1889 - Funeral da Imperatriz do Brasil, D. Maria Cristina, Janeiro de 1890 - Funeral de D. Pedro II, Imperador do Brasil, 13 de Dezembro de 1891 - Entrega da Rosa de Ouro a D. Amélia, 4 de Julho de 1892 - Visita oficial de Eduardo VII de Inglaterra, Abril de 1903 - Visita oficial de Afonso XIII de Espanha, 10 de Dezembro de 1903 - Visita oficial do Imperador Guilherme II da Alemanha, 27 de Março de 1905 - Visita oficial do Presidente da República Francesa, Emile Loubet, 27 de Outubro de 1905. COMENTÁRIO: Contrariamente à versão corrente, parece pouco provável que este carro tenha sido construído em Portugal pois, tanto em termos estruturais como decorativos, difere em muito das viaturas reconhecidamente de fabrico nacional. O "bombé" da caixa, solução plástica e erudita destinada a acentuar os efeitos de claro-escuro preconizados pela escultura barroca, bem como o tipo de tejadilho convexo e alteado, não encontram paralelo nas obras de entalhadores portugueses, mais identificados com a robustez da massa do que com a sinuosidade da forma. Esta "tendência" repercute-se também na esculturação das figuras acopladas à estrutura que, neste caso particular, denotam uma graciosidade e um sentido de pormenor pouco comuns na talha joanina de produção nacional. Por outro lado, também os bordados do tecto revelam uma mestria técnica e um apurado sentido ornamental muito próximos da estética francesa setecentista, que conjuga pontos e texturas de modo a conseguir requintadas composições decorativas. Pelas razões apresentadas, às quais acresce o facto de as pinturas da caixa serem clara e inequivocamente atribuíveis à Escola Francesa e de a decoração escultórica incluir figuras retiradas da gramática decorativa do estilo Luís XV, entre as quais se contam as características "espagnolettes", acreditamos estar em presença de um carro de fabrico francês, da segunda metade do século XVIII. No que concerne a atribuição de propriedade deste magnífico coche, afigura-se-nos completamente inverosímil que este tenha sido encomendado por D. João V, pelas razões que seguidamente se apresentam. Sobejamente conhecida e identificada a iconografia joanina, do seu estudo ressalta o facto de ser, acima de tudo, uma iconografia do poder, em que tudo tem a marca da figura titular do rei, senhor absoluto, majestade católica e detentor de um soberbo império marítimo. Ora, neste coche não se encontra um único elemento que o associe de modo indelével a este ou a qualquer outro monarca português; não existem monogramas nem sequer um escudo com as armas reais portuguesas, facto tanto mais incompreensível porque se trata de uma peça única e vital na encenação do poder. Mais ainda, não se entende como é que no reinado do "Magnânimo", apogeu do absolutismo régio em Portugal, se abdicaram das composições alegóricas e plenas de conteúdo simbólico para retroceder na direcção da mitologia clássica, preferencialmente relegada para o universo feminino ou das personagens secundárias da corte. A existir um elo de ligação entre este carro e o seu presumível encomendador, este só poderia ser procurado nos apainelados anterior e posterior da caixa, embora mesmo aqui se encontrem pintados estandartes com flores-de-lis e figuras paradigmáticas como a da "Punição", sabendo-se que o soberano absoluto se quer mais piedoso do que punidor. Recorde-se que as atribuições de propriedade dos carros reais que hoje integram o acervo do Museu foram estabelecidas por Monsenhor BÔTO no início do século (1909), certamente com base nas notícias veiculadas pela imprensa oitocentista a propósito da saída dos coches em cerimónias oficiais, e por uma mentalidade romântica ainda fortemente enraizada nos meios eruditos da época. De resto, nos diversos inventários elaborados por organismos oficiais que tinham a seu cargo as cavalariças e cocheiras da Casa Real, muitos dos quais se guardam em reserva no próprio Museu, não se encontram referências individualizadas aos presumíveis encomendadores ou proprietários dos carros, ordenados tipologicamente e sucintamente descritos. Assim sendo, jugalmos que, a existir no acervo do M.N.C. um coche de aparato que originariamente tenha pertencido a D. João V, encomendado para seu uso pessoal e não para uma função diplomática específica, este será o coche nº invº 22 (dito de D. José I) e não o nº invº 12. Naquele, sim, predomina a horizontalidade secular na arte portuguesa, para além de ostentar as armas reais bordadas ao centro do tejadilho e de se inserir perfeitamente na linguagem escultórica nacional, com paralelismos evidentes com os altares de talha joanina. De um ponto de vista iconológico, está de acordo com a exaltação feita ao império luso e, em particular ao Brasil (cabeças de índios entalhadas), que conheceu o seu período áureo sob o reinado do "Magnânimo". Elsa Garrett Pinho.
 
     
     
   
     
     
     
 
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