Origem / Historial:
Em 1877, Estácio da Veiga foi convidado pelo Sr. Conselheiro Geral de Instrução Pública, a proceder a um exame dos vestígios antigos do concelho de Mértola e a apresentar a revisão da carta arqueológica local. Iniciaram-se, deste modo, as escavações em 2 de Março de 1877, um pouco por todo o concelho, pondo a descoberto vestígios de várias épocas pré-históricas e históricas, desde o Neolítico até à Idade Média, dando a conhecer uma Mértola bem mais antiga do que as fontes escritas testemunhavam até então. A grande maioria destes objectos foram, em primeira instância, depositados num gabinete reservado da Academia Real de Belas Artes, sendo mais tarde integrados nas colecções do Museu Etnológico J.L.V.
Em 1895, o Dr. José Leite de Vasconcelos, em visita a Mértola, procede a novas escavações, aumentando substancialmente as descobertas e consequentemente o acervo do Museu. O espólio de Mértola, pertencente ao Museu, foi igualmente enriquecido, ao longo dos anos, através de inúmeras doações ou por compra de peças.
Estudo da peça: Eva - Maria von Kemnitz
Esta torre de roca provém de Mértola onde foi recolhida na zona do castelo em data e circunstâncias desconhecidas.
Torre de roca, às vezes designada por torre de fiar ou ainda manga de roca, constitui um utensílio essencial no processo de fiação e funciona como suporte da rama de algodão, de lã ou outra matéria textil destinada para ser transformada em fio.
Frequentemente estes artefactos são decorados de uma maneira elaborada e são, às vezes, produzidos em materiais nobres como marfim, indício claro que se destinavam às classes abastadas.
O exemplar em apreço, pela profusa decoração que ostenta como ainda pelo facto de ter sido recolhido na zona do castelo, situa-se exactamente na categoria de objectos de luxo.
A indústria textil constituiu uma actividade económica de relevo em todo Al-Andalus, processando-se em grandes oficinas urbanas como paralelamente em pequenos núcleos de economia doméstica. Os têxteis islâmicos constituiam objecto de intensas trocas comerciais e eram muito procurados. A importância da indústria textil encontra-se corroborada pela imensa quantidade de utensílios de fiação encontrados nos sítios islâmicos em toda a Península que forneceram numerosos exemplares de torres de roca, cossoiros ou fusos.
Em Portugal a maior parte desses materiais arqueológicos conhecidos provém do Algarve , sobretudo dos pequenos centros de economia rural.
No acervo do MNA existem mais dois exemplares de torre da roca, o nºInv.14036 (incompleto), também de Mértola e ainda o nº Inv. 15602 - H, de proveniência desconhecida.