Origem / Historial:
Escultura coletada pelo etnógrafo Fernando Rogado Quintino em 1963, no âmbito da Missão Organizadora do Museu do Ultramar, atual Museu Nacional de Etnologia. Tem autoria atribuída ao escultor Joaquim Có, da etnia papel, na Guiné-Bissau. É parte de um conjunto de 20 objetos deste autor, adquiridos na mesma circunstância, para o acervo do MNE. As esculturas retratam cenas da vida quotidiana da Guiné-Bissau no início da década de 1960 e caracterizam-se por um entalhe e formas de composição recorrentes na obra de Joaquim Có. Os objetos são esculpidos de uma maneira geral em peça única de madeira, com formas arredondadas, apresentando forte expressividade e plasticidade, criando uma idéia de movimento nas cenas representadas.
A Jibóia Africana (phyton sebae) é a serpente do continente africano que atinge as maiores dimensões, até seis metros. Pode ser encontrada por toda a África ao sul do Saara. Vive em regiões de rica vegetação como selvas, matas e savanas, próximo de fontes de água. Alimenta-se de aves e mamíferos. O ataque à presa é feito pela mordedura, enrolamento e a constrição, matando-a por asfixia e esmagamento. Após a ingestão permanece por um período em letargia, sendo muito resistente a longos períodos sem se alimentar. Antes de escolher a sua presa a jibóia africana certifica-se de que o lugar não possui formigas, das quais teme os ataques nos seus períodos de letargia. Por isso, não raro se vê nos terrenos de pastagens por perto sempre um morro de baga baga.
Na Guiné-Bissau a Jibóia africana é conhecida também pelo termo irã cego, referencia ao mundo mágico religioso. O termo irã (ou iran), traduz um conjunto de idéias associadas às forças e seres do mundo sobrenatural, um espírito ancestral, ou mesmo o lugar onde ocorrem cerimónias de culto. Certos animais como a vaca, a onça ou a hiena; e plantas, como o poilão, são considerados protetores e definidores de certas características de determinados grupos, que em contrapartida não os matam, não os comem e não os destroem, sendo ainda consultados a cada augúrio ou decisão a tomar. O Irã cego é representado por uma grande jibóia de olhos fechados após a ingestão de um animal.