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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Palácio Nacional da Pena
N.º de Inventário:
PNP1451
Supercategoria:
Arte
Categoria:
Mobiliário
Denominação:
Leito
Autor:
Autor não identificado
Centro de Fabrico:
Portugal
Datação:
XVII d.C. - XIX d.C.
Matéria:
Pau-Santo e vinhático; Metal
Técnica:
Torneada / Recortada / Vazada / Entalhada
Dimensões (cm):
altura: 230; largura: 170; profundidade: 210;
Descrição:
Leito do século XVII com dossel de tecido, com cabeceira que se caracteriza pela abundancia da utilização de pequenos elementos, os “bilros”, pequenas peças torneadas semelhantes aos bilros utilizados na renda, colocados verticalmente nos dois sentidos e ainda pela decoração entalhada e densa de enrolamentos vazados, e elementos espiralados. Na restante estrutura abundam os estrangulamentos e os torcidos, compostos por bolachas e esferas intercaladas com elementos espiralados. Estes elementos criam jogos de claro-escuro e ilusão de movimento continuo, acentuado pelo torneado das colunas e da cabeceira, que reflete o gosto barroco do século XVII. A cabeceira é composta por uma travessa de quatro frisos horizontais, separados por um motivo de encordoado, sendo o friso superior e inferior semelhantes, com enrolamentos vazados e motivos em forma de coração, tal como acontece com os frisos do meio, de enrolamentos vazados de motivos vegetalistas. A travessa é suportada por 10 colunas torneadas, compostas por motivos espiralados, bolachas e discos, sendo intercaladas por cinco bilros dispostos de baixo para cima e cinco pequenos bilros dispostos de cima para baixo, acoplados à trave inferior da cabeceira, decorada com um friso de motivos vegetalistas e encordoados, e à travessa, respectivamente. A parte superior da cabeceira, de terminação circular, é composta por um conjunto de dezanove bilros acoplados à travessa, sendo sete de menores dimensões. Os montantes da cabeceira e dos pés são torneados, com bolachas, discos, esferas e motivos espiralados, que vão diminuindo de tamanho de baixo para cima, terminando numa pequena esfera. Inferiormente terminam num prisma de intersecção, do qual partem os pés compostos por bolachas e discos. Aplicações de metal dourado e vazado nos cubos de intersecção dos montantes com as travessas laterais e nos montantes laterais da cabeceira, nomeadamente a meio, para suportar a travessa e em baixo para suportar a trave inferior. Sendo os segundos de menores dimensões e mais simples do que as primeiras, de forma quadrangular e de elaborado rendilhado. Por fim, as colunas terminam num palium, que suporta um tecido vermelho com motivos vegetalistas dourados, com um alparavaz que cai a toda a volta. Este tecido faz conjunto com a colcha, também do mesmo material e com os mesmos motivos decorativos. Trata-se de um leito pesado, monumental, exemplo perfeito de como torneiro e entalhador se podem complementar no mesmo impulso de dinamismo barroco. Reconhece-se também um certo toque orientalizante, nomeadamente na travessa da cabeçeira, como geralmente acontece nesta tipologia, conhecida por cama de bilros.
Incorporação:
Transferência - Coleções Reais, Palácio da Pena, 1910
Origem / Historial:
Durante séculos, “cama” significava apenas os têxteis que tinham a ver com essa peça de mobiliário, pois a riqueza do leito consistia ainda no século XV e XVI, nos tecidos que o ataviavam (NASCIMENTO, 34), aos quais era dada mais atenção do que ao próprio trabalho de marcenaria. Para designar esse móvel de descanso, era utilizada a palavra leito. No início do século XVI o leito foi-se enriquecendo, começando a usar formas próprias, abandonando os estrados, escanos e outros móveis para a elevar do chão. Aparece o espaldar na cabeceira e esta fica isolada da parede. O dossel passa a assentar sobre quatro colunas no prolongamento, terminando no palium ou dossel. Apesar desta evolução não existia ainda nesta altura um padrão recorrente para a cama, como acontecia para os restantes móveis (NASCIMENTO 1950, 34). Surgem então os monumentais leitos da renascença, para os quais muito contribuíram as madeiras vindas do Brasil e as relações de Portugal com os povos do oriente (NASCIMENTO, 35). No século XVII começa a ser dada uma maior atenção à marcenaria do leito, pois a decoração entalhada, limitada por vezes às colunas, torneadas ou marchetadas, amplia-se à cabeceira, que passou a absorver o maior trabalho artístico ao móvel. A forma de construção do leito português fixada neste século mantem-se até fins do século XVIII. A cabeceira, formada por um espaldar ligado a duas pernas, e os chamados «pés-do-leito», constituído pelas outras duas pernas ligadas entre si por um travessão, fazem a junção por meio de traves de secção quadrangular fixadas por parafusos enroscando em porcas encaixadas na madeira. A colchoaria assentava numa base feita de réguas de madeira de maior ou menos largura, apoiadas em cavidades abertas nos travessões. Na construção dos leitos modestos empregava-se o castanho e a nogueira; para os outros dava-se preferência às madeiras importadas como o ébano ou o pau-santo, sendo que os barramentos e lastro eram de outras madeiras que melhor se prestavam, como a madeira do Brasil. Baniam-se os dourados e trabalhava-se a madeira de forma a ficar da cor natural (NASCIMENTO 1950, 42). No primeiro quartel do século XVII surge o estilo barroco mas a sua influência nos leitos portugueses só se fez sentir na segunda metade do século e apenas na parte decorativa, mantendo-se quanto às estruturas que vinham do renascimento. Assim encontramos vulgarizados no século XVII dois tipos de leitos: os de torneados simples, com cabeceiras de composição arquitectónica de arcarias e colunas, e os de cabeceiras de elementos torneados dispostos verticalmente, intercalados de largos travessões e remates entalhados. Neste segundo grupo alinham os leitos de quatro colunas de típicos torneados portugueses de estrangulamentos violentos e espaldares de balaústres torneados alternando com travessões em que a talha denuncia, em alguns exemplares, a influência recebida dos leitos indianos e indo-portugueses vindos para Portugal (NASCIMENTO 1950, 42-43). Assim, estes típicos leitos portugueses eram compostos por um imponente espaldar da cabeceira que se caracteriza geralmente pela abundancia de elementos torneados em espiral, contas e discos, além de pequenas peças (bilros, fixados verticalmente nos dois sentidos) e ainda pelo exagero da decoração entalhada, densa e orientalizante, de estrias, formando espinhados e enrolamentos vazados e fechados, numa dança de claro-escuro, característico do Barroco (Pais et al 2001, 201). As trocas culturais entre Portugal e Espanha sempre foram bastante estreitas, de tal forma que, num momento de relativa expansão cultural do primeiro, correspondente à primeira metade do século XVII, em Portugal estão na moda peças de mobiliário em que domina o gosto pelo torneado utilizado com uma riqueza relacionada com as extraordinárias elaborações barrocas nos altares de madeira portugueses. Para tal são exemplo as camas de bilros em que, quer os elementos da cabeceira quer as colunas são torneadas de acordo com um elaboradíssimo desenho: na mesma coluna podem coexistir as espirais, os dados, as bolas e todo o reportório ornamental que era executado com os torneados; o resultado decorativo é de um extrema elegância e requinte, realçado pelo vivo contraste cromático entre a madeira escura: madeira de fora, que chega a Portugal em grandes quantidades em consequência da relação sólida com os países coloniais; e a policromia das coberturas e da tapeçaria que, também nesse caso completam o efeito decorativo (COTTINO 1989, 77). Típicas são também as decorações de metais dourados nos elementos de intersecção, em que nas tonalidades escuras da madeira se salientam “luminosas” aplicações de metal amarelo rendilhado, num contraste claro-escuro, avidamente procurado pela estética da época (PROENÇA 2009, 33). Terá influências no mobiliário indo-português, no qual abundavam elementos torneados em espiral, contas e discos, assim como os bilros e a decoração entalhada, densa e orientalizante, muito com camas com cabeceiras coroadas por enrolamentos e decorada por efeitos espinhados e tremidos (PAIS et al,234-235). A cama está documentada, pela primeira vez, no inventário do palácio, datado de 1886/1887, estando referenciada como tendo dado entrada após o casamento do rei D. Fernando II com a Condessa d’Edla em 1869.
Bibliografia

Bibliografia

PROENÇA, José António – Mobiliário da Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa, 2002.

PROENÇA, José António – Mobiliário da Casa Museu Condes de Castro Guimarães. Câmara Municipal de Cascais, Lisboa, 2009.

PAIS et al – Guia Museu: Museu-escola de Artes Decorativas Portuguesas. Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Lisboa, 2001.

NASCIMENTO, J. F. da Silva – Leitos e Camilhas Portuguesas: Subsídios para o seu estudo. Edição do autor, Lisboa, 1950.

COTTINO, Alberto – Mobiliário do século XVII: França, Espanha, Portugal. Presença, Lisboa, 1989.

 
     
     
   
     
     
     
 
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