Descrição:
Exposição centrada na tradição musical da Nazaré, nomeadamente nos grupos folclóricos que têm feito a sua história popular desde o início do século XX até à atualidade, patenteando como as suas danças e cantares exprimem a relação identitária da região com o Mar.
Em exibição, estiveram elementos do acervo documental, fotográfico, videográfico, etnográfico e artístico do Museu Dr. Joaquim Manso, bem como documentação e objetos cedidos pela comunidade e pelos vários grupos folclóricos da Nazaré. Contou ainda com uma seleção de filmes e videos sobre a atuação dos grupos, desde os anos 1930 até à atualidade.
Exposição inserida no evento “Nazaré. Marés de Maio” 2017, um projeto de promoção cultural, artística e identitária da Nazaré, tendo o MAR como denominador comum e elemento aglutinador de todas as iniciativas, promovidas por várias associações e entidades públicas e privadas.
ORGANIZAÇÃO: Museu Dr. Joaquim Manso. COLABORAÇÃO: Câmara Municipal da Nazaré, Grupo Etnográfico Danças e Cantares da Nazaré, Círculo Cultural Mar-Alto, Rancho Folclórico Tá-Mar, Rancho Folclórico da Velha Guarda da Nazaré e vários particulares.
INVESTIGAÇÃO: Dóris Santos, Emílio Vasco.
CATALOGAÇÃO: Dóris Santos.
TEXTOS: Dóris Santos.
APOIO na museografia e montagem: Emílio Vasco, Deolinda Brites, Maria Antónia Quinzico e Maria Otília Milhazes.
TEXTO DE ABERTURA DA EXPOSIÇÃO: "A Nazaré é o mar. O mar enorme que todos os portugueses trazem no coração”, assim escrevia Artur Pastor em 1958.
A Nazaré é também o seu folclore, necessariamente ligado ao mar. Se a gente da Nazaré sempre bailou, importa reconhecer que as suas danças e cantares assumem características singulares e que, ao apresentarem a cultura popular tradicional, foram... e continuam a ser um cartaz de divulgação e de promoção turística das terras lusas.
Segundo Tomaz Ribas (1985), “a originalidade do folclore da Nazaré deve-se, sobretudo, à forte e bem vincada personalidade dos nazarenos. É dos domínios da música [portanto, nas danças e nas canções] e do trajo que esse facto melhor se evidencia”.
De facto, o folclore da Nazaré tem as suas canções, as suas danças, os seus ritmos e o seu traje, que se identificam com os trabalhos marítimos e a forte ligação desta gente à faina da pesca artesanal. O traje dos grupos é a típica indumentária dos que vivem junto do mar, formando um conjunto colorido entre o contraste vistoso do “xadrez” das camisas de pescador e o rodopiar das “sete saias” da mulher, sob os aventais de seda ricamente bordados.
Os títulos e letras das composições abordam os perigos que vêm do mar ou a felicidade da abundância do peixe que garantia o sustento familiar; a perspetiva da mulher que espera em ânsias o regresso do marido ou é elogiada pela sua beleza e capacidade de trabalho; as embarcações, lances ou artes de pesca; as zonas da Nazaré e a sua beleza natural.
Muito se discute sobre a autoria popular destes poemas e marcações. Há também quem queira ver nos “Ranchos de Carnaval” de início do século XX uma remota origem do folclore nazareno, atendendo ao facto desses grupos se organizarem com coreografias e trajes próprios. Se é certo que letras como o conhecido “Não vás ao mar, Tónho” surgem atribuídas ao nazareno António Vitorino Laranjo e o “Vira da Nazaré” a Pereira Coelho, o que importa constatar é que o folclore foi adotado pelo povo, que nele se reviu e continua a rever.
Com os seus movimentos rápidos, de pé descalço como na praia, dançando e cantando ao mesmo tempo, os Viras da Nazaré têm no seu conjunto musical também outro cunho original. As Tocatas recorrem à viola, à concertina (ou acordeão) e ao clarinete para reproduzir a melodia; encontram a percussão rítmica no cântaro de barro batido com abano, nas pinhas e garrafa de vidro com o garfo de ferro, instrumentos rudimentares oriundos dos convívios das tabernas (para além dos ferrinhos e reque-reque comuns a todo o país).
Sendo o Tá-Mar o agrupamento mais antigo em atividade, confundindo-se com a própria história do folclore nacional, os vários ranchos da Nazaré exprimem a continuidade de uma identidade-memória ligada ao mar, que alicerça e unifica uma comunidade cada vez mais projetada para o turismo e para os novos desafios que vêm do mar" (Dóris Santos / Museu Dr. Joaquim Manso).