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FICHA DE CONJUNTO
Museu:
Museu da Música
N.º Conjunto:
3
Tipo:
Conjunto
Denominação:
Estudo Dendrocronológico pelo Centro de Estudos Florestais
Descrição:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=zwNeIvqv7H4 Datação de um violoncelo de construção portuguesa da coleção do Museu Nacional da Música: uma abordagem dendrocronológica A datação da madeira de um instrumento musical é importante pois permite saber quando terá sido construído e, se conhecido o construtor, imputar o instrumento à sua fase artística (inicial/plena/final). O trabalho apresentado nesta Exposição faz parte de uma investigação, pioneira em Portugal, que utiliza a dendrocronologia como método de datação de violinos e violoncelos, e que decorre de uma parceria entre o Museu Nacional da Música e o Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (Universidade de Lisboa). A dendrocronologia é um método científico que estuda os anéis de crescimento das árvores no tempo. O termo provém do grego dendron (que significa árvore), kronos (tempo) e logos (conhecimento). A dendrocronologia baseia-se no facto de haver uma relação entre o crescimento das árvores e as condições ambientais em que crescem, ou seja, os anéis de crescimento visíveis na madeira do tronco funcionam como “arquivos naturais” que permitem identificar e datar acontecimentos ambientais. Por exemplo, eventos climáticos extremos (dendroclimatologia), incêndios (dendropirocronologia), pragas (dendroecologia), inundações (dendrogeomorfologia) e também estudar a proveniência das madeiras (dendrolocalização). A dendrocronologia permite a datação de artefactos antigos em madeira (dendroarqueologia), com especial destaque para obras de arte ou instrumentos musicais. Para aplicar a dendrocronologia começa-se por fazer a medição da largura dos anéis anuais de crescimento em árvores vivas, sabendo qual o ano que corresponde a cada anel. Através de tratamentos estatísticos, retiram-se dos valores das larguras dos anéis as diferenças que podem ocorrer devido à idade das árvores ou às suas características genéticas de crescimento, o que permite obter uma série cronológica (cronologia). O mesmo se pode também fazer com madeiras provenientes de peças arqueológicas. Os dados obtidos de árvores vivas de diferentes idades e de material arqueológico podem ser articulados de modo a ser construída uma longa série cronológica, com uma abrangência de vários séculos. Para cada espécie florestal, e para cada região, é assim possível construir uma cronologia-padrão. É esta cronologia-padrão que é utilizada como valor de referência, para cruzar com as cronologias obtidas para as madeiras que se querem estudar, possibilitando a datação de madeiras. No contexto artístico, o acesso a obras de arte de coleções públicas e privadas portuguesas, nomeadamente instrumentos musicais e pinturas, é uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de estudos dendrocronológicos em Portugal, permitindo melhor conhecer as madeiras e técnicas de montagem utilizadas no passado para a construção destas obras. Nesta investigação aplicou-se a dendrocronologia para datação das madeiras de violinos e violoncelos da coleção do Museu Nacional da Música. A determinação do ano correspondente ao anel de crescimento mais recente identificado nas madeiras do instrumento permite a sua datação, assim como analisar a proveniência das madeiras e o tempo do seu armazenamento por comparação com a data que consta na etiqueta do instrumento musical. A data final obtida refere-se ao terminus post quem, ou seja, o limite (ano) a partir do qual o instrumento musical pode ter sido construído. O presente caso de estudo foi executado sobre o tampo de um violoncelo atribuído a J. P. Hausz (nº de inventário MM44, Museu Nacional da Música), cuja etiqueta no interior refere 1750 como o ano de construção. Numa primeira fase, o estudo dendrocronológico requer a identificação do número de peças e a espécie de madeira utilizada. Para um violoncelo, de um modo geral, são espécies de Acer preferencialmente usadas para o fundo, braço e ilhargas, enquanto são espécies de Picea que constituem o tampo pois a madeira possui muito boas propriedades acústicas e mecânicas. Para a medição dos anéis de crescimento em cada uma das peças do tampo do violoncelo (normalmente duas peças: bass e treble) é essencial a remoção das cordas e do estandarte por um luthier de modo a permitir o acesso visual. Podem então visualizar-se os anéis da madeira na zona inferior e mais larga do tampo (nível I), na zona mais estreita, junto à abertura acústica (nível II) e na zona junto à escala (nível III) (Figura 1). O estudo utiliza macrofotografias obtidas com uma câmara digital, onde se visualizam os anéis da madeira. A medição dos anéis de crescimento de cada peça utiliza programas de análise de imagem, tratados estatisticamente com um programa específico (TSAP Win Scientific 4.64, Rinntech). A datação dos anéis é realizada através do cruzamento das séries cronológicas obtidas com cronologias-padrão disponíveis em bases de dados internacionais. Este método evita o manuseamento repetido do instrumento musical e permitir a visualização dos anéis de crescimento no futuro para novas reavaliações. As duas partes do tampo do violoncelo, de madeira do género Picea, provêm da mesma árvore, dada a coincidência dos padrões de crescimento dos anéis. A série cronológica obtida no violoncelo apresentou uma boa correlação estatística com as cronologias-padrão de Picea abies, de origem suíça, que abrangem os períodos 1532-1986 e 1537-1995. A data obtida foi 1735. Dado que existia um anel de crescimento incompleto, visível mas não mensurável, pode afirmar-se como terminus post quem o ano de 1736. Este resultado é compatível com a data mencionada na etiqueta (1750). Alargar o estudo dendrocronológico a uma maior número de instrumentos, irá permitir o aprofundar de conhecimentos sobre a construção de violoncelos em Portugal no século XVIII, nomeadamente permitindo avaliar a seleção de madeiras utilizadas pelo luthier na sua construção. ALEXANDRA LAUW Dendocronologista, Investigadora do Centro de Estudos Florestais CEF-ISA
 
     
     
   
     
     
     
 
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